O Grande Prêmio do Canadá costuma ser um dos mais
movimentados da temporada – e para não dizer um daqueles em que as zebras
costumam aparecer. Em 1990, o vencedor era o favorito daquela temporada: Ayrton
Senna. Mas a corrida em si seria marcada por muitas alternativas – e o brasileiro
conseguindo escapar de todas as “armadilhas” do veloz circuito de Montreal, que
mescla características únicas de um circuito urbano com curvas velozes como em
um autódromo permanente.Senna vinha de uma excelente vitória em Mônaco e o
piloto da McLaren tinha 22 pontos no campeonato, seis de vantagem para seu
companheiro Gerhard Berger e 10 pontos à frente de Alain Prost, da
Ferrari.Vencedor do GP do Canadá em 1988, Senna iria entrar pela 99a vez em uma
corrida de Fórmula 1. O piloto sabia que iria dividir a atenção de muitos
brasileiros naquele final de semana, afinal a abertura da Copa do Mundo de 1990
iria acontecer na sexta-feira e a estreia da Seleção Brasileira era justamente
no domingo, alguns instantes depois que o brasileiro saísse do cockpit da McLaren.“Nunca
fui fanático por futebol, mas nessa hora não dá pra deixar de torcer. A Copa do
Mundo realmente mexe com o espírito de qualquer brasileiro. Pena que
dificilmente conseguirei ver o nosso jogo de estreia”, disse Ayrton.Um dos
momentos mais marcantes da carreira de Ayrton Senna aconteceu justamente
durante uma Copa do Mundo. Foi em 1986, quando o piloto brasileiro venceu o GP
dos Estados Unidos, em Detroit, um dia depois do futebol brasileiro ser
eliminado pela França no Mundial do México. Após a quadriculada da vitória,
Ayrton recebeu a bandeira brasileira de um torcedor e, ainda no cockpit de seu
carro, deu uma volta com ela por todo o circuito, um gesto emocionante, que
lavou a alma da torcida brasileira pela desclassificação da Copa do Mundo pelos
franceses – que, por sinal, faziam o motor Renault de sua Lotus.Em Montreal,
Ayrton iniciou a sexta-feira pisando fundo e marcando o melhor tempo do treino
provisório com 1min20s399, seis milésimos mais rápido que a pole position de
Prost no ano anterior.No sábado, a chuva castigou o Autódromo Gilles Villeneuve
e fez com que os tempos provisórios fossem oficializados para o grid de
largada, e assim Senna conquistava sua 46a pole position na carreira. Berger
completaria a primeira fila com a McLaren e a segunda seria formada por Alain
Prost, da Ferrari, e Alessandro Nannini, da Benetton.Para o dia da corrida,
novamente a chuva era um grande obstáculo para os pilotos no circuito de
Montreal. Mesmo um campeão experiente como Ayrton Senna teria que brigar muito
para manter-se na pista. No ano anterior, em uma prova também com chuva no
Canadá, o brasileiro era líder até as últimas três voltas, quando o motor da
McLaren quebrou e a vitória ficou para Thierry Boutsen (Williams).Na hora do
sinal verde, a pista estava molhada, mas não chovia no momento. Ayrton Senna
foi surpreendido por uma largada espetacular demais para ser verdade de Gerhard
Berger. E realmente havia algo errado: o austríaco queimou a largada,
acelerando antes, e foi punido com o acréscimo de um minuto ao tempo total de
prova obtido, já que na época não existia ainda previsto o ‘drive thru’ com a
parada do piloto nos boxes para cumprir a punição.Mesmo com Berger largando
antecipadamente, Senna ainda manteve a liderança até a parada nos boxes, quando
os pilotos tiraram os pneus de chuva para colocarem os de pista seca. A McLaren
trabalhou melhor com o austríaco, que voltou na frente, mas que estava
praticamente sem chances na corrida, já que a punição havia sido anunciada
ainda no início da corrida.Na volta 14, uma situação que é comum no Canadá se
repetiu: Nannini teve a infelicidade de atropelar uma marmota, prejudicando a
corrida do italiano que vinha em disputa intensa com as McLaren.Cinco voltas
depois, enquanto Senna mantinha a ponta, Boutsen disputava o segundo lugar com
Prost. Mas o piloto belga acabou sendo muito otimista na manobra de
ultrapassagem e, ao pegar uma poça fora do traçado ideal, rodou em direção de
Larini, chocando-se com o retardatário.Este seria apenas um dos incidentes numa
prova em que apenas cinco carros terminariam na mesma volta. No total, 12 dos
26 pilotos acabaram rodando durante a corrida.Outra disputa intensa na corrida
aconteceu entre Nelson Piquet e as Ferrari de Prost e Mansell. O piloto da
Benetton tomou o segundo lugar do francês na volta 49 e, logo depois, foi a vez
do britânico fazer a ultrapassagem sobre o francês antes do “grampo”, principal
ponto de ultrapassagem do circuito.Para Ayrton Senna, foi necessário reunir
sorte, concentração e muita destreza para desviar de diversos carros
atravessados que rodavam e batiam enquanto a pista não secava 100%. Apesar
disso, nenhum rival que vinha atrás conseguiu ameaçar a vitória do piloto que
caminhava a passos largos para a conquista do bicampeonato.No final, dobradinha
brasileira com Senna e Piquet a poucos instantes da estreia do Brasil na Copa
do Mundo contra a Suécia, em jogo que terminaria 2 a 1 para a Seleção. Mansell
completou o pódio no Canadá. Berger conseguiu ficar a frente de Prost mesmo com
a punição. Derek Warwick foi o sexto.O campeonato se manteve com a liderança de
Senna: o brasileiro foi a 31 pontos, Berger foi a 19 e Prost, a 14.
Fonte: História de Ayrton Senna http://www.ayrtonsenna.com.br/piloto/
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