domingo, 28 de outubro de 2018

A morte de Ayrton Senna, o que se noticiou

O GP DE SAN MARINO ATÉ O MOMENTO DO ACIDENTE DE SENNA 

Fonte: Wikipedia 
No começo da corrida, o finlandês JJ Lehto  não conseguiu largar com sua Benettone ficou parado no grid na quinta posição. O portuguêsPedro Lamy(Lotus-Mugen Honda), que largou na vigésima-segunda posição, tinha sua visão bloqueada por outros carros e não o percebeu, acertando em cheio a traseira do Benetton-Ford. Partes da carenagem do carro e pneus voaram pelo ar contra a cerca de segurança projetada para proteger os espectadores no grid de largada. Porém, nove pessoas sofreram ferimentos leves após um dos pneus ultrapassar a cerca.
O acidente resultou na entrada do safety car na pista para que os carros mantivessem a posição em velocidade reduzida, enquanto os fiscais retiravam os destroços dos carros acidentados e limpavam a pista que havia ficado suja de óleo. Durante este período, como resultado de correr a velocidades mais lentas, a temperatura dos pneus baixou. Na reunião dos pilotos antes da corrida, Senna, junto com Gerhard Berger, manifestou preocupação com o fato de o carro de segurança não ser bastante rápido para manter a temperatura dos pneus alta.
Na quinta volta, o safety car vai aos boxes e a corrida recomeça. Senna larga bem, mantém a ponta e vai se distanciando em relação a Schumacher. Na sexta volta, a direção do Williams não obedece ao seu comando e vai direto contra o muro da curva Tamburello  a 210 Km/h  a mesma que Nélson Piquet  sofreu um acidente nos treinamentos de 1987 pela Williams  e Gerhard Berger no início da corrida em 1989 pela Ferrari
Às 14h17min (hora local), uma bandeira vermelha foi mostrada para indicar que a corrida foi interrompida e Sid Watkins  médico-chefe da categoria, chegou ao local para tratar de Senna. Quando uma corrida é parada sob bandeira vermelha, os carros têm que reduzir a velocidade e retornar aos boxes ou ao grid de largada até notificação posterior. Isto protege os fiscais de corrida e o corpo médico no local da batida, e permite acesso mais fácil de carros médicos até o incidente. Aproximadamente dez minutos depois da batida de Senna, a equipe Larrouse  misteriosamente  permitiu que um de seus pilotos, o francês Erk Comas  (campeão da Fórmula 3000 em 1990) , deixasse o pit, apesar do circuito estar fechado sob bandeiras vermelhas. Freneticamente, os fiscais de corrida acenaram-o quando ele chegou à cena do acidente a quase velocidade máxima. Durante alguns minutos as comunicações no circuito haviam entrado em colapso permitindo que o piloto deixasse o pit-stop e retornasse à corrida. Há também quem diga que o piloto havia deixado os boxes e ido em direção a curva Tamburello para saber qual era o estado de saúde de Senna após o acidente, visto que após o piloto brasileiro ter salvo sua vida após ele ter sofrido um acidente no GP da Bélgica de 1992, eles acabaram criando uma grande amizade. O que realmente se sabe, é que Comas evitou bater em quaisquer das pessoas ou carros que estavam no circuito, mas, diante da cena do acidente de Ayrton, ficou tão aflito com o que viu que se retirou da prova. As imagens de Senna sendo tratado em cobertura mundial (fornecido pela emissora italiana RAI)foram muito gráficas, e da BBC   ligada à sua própria câmera estava focada no pitlane.Senna foi erguido da Williams destruída e levado de helicóptero para o Hospital Maggiore, perto de Bolonha  Equipes médicas continuaram o tratando durante o voo. Trinta e sete minutos depois do acidente, às 14h55min da hora local, foi reiniciada a corrida.



A MORTE DE AYRTON SENNA
Fonte: Wikipedia
Na sexta volta a corrida foi reiniciada, e na abertura da sétima volta Senna rapidamente fez a melhor volta da corrida então abrindo em relação a Schumacher. Senna iniciara o que seria a sua última volta na F1; ele entrou na curva Tamburello (a mesma onde bateu Berger com a Ferrari em 1989) e perdeu o controle do carro, seguindo reto e chocando-se violentamente contra o muro de concreto. A telemetria   mostrou que Senna, ao notar o descontrole do carro, ainda conseguiu, nessa fração de segundo, reduzir a velocidade de cerca de 300km/h (195mph) para cerca de 200km/h (135mph).Os oficiais de pista chegaram à cena do acidente e, ao perceber a gravidade, só puderam esperar a equipe médica. Por um momento a cabeça de Senna se mexeu levemente, e o mundo, que assistia pela TV, imaginou que ele estivesse bem, mas esse movimento havia sido causado por um profundo dano cerebral. Senna foi removido de seu carro pelo Professor Sid Watkins, neurocirurgião  de renome mundial pertencente aos quadros da Comissão Médica e de Segurança da Fórmula e chefe da equipe médica da corrida, e recebeu os primeiros socorros ainda na pista, ao lado de seu carro destruído, antes de ser levado de helicóptero para o Hospital Maggiore de Bolonhaonde, poucas horas depois, foi declarado morto. 
Mais tarde o Professor Watkins declarou: Ele estava sereno. Eu levantei suas pálpebras   e estava claro, por suas pupilas ,que ele teve um ferimento maciço no cérebro. Nós o tiramos do cockpit  e o pusemos no chão. Embora eu seja totalmente agnóstico , eu senti sua alma partir nesse momento"
Foi encontrado no carro de Senna uma bandeira austríaca que, em caso de uma possível vitória, o tricampeão a empunharia em homenagem ao austríaco Roland Ratzenberger, morto um dia antes


A CAUSA DA MORTE

“LESÓES MÚLTIPLAS NA BASE DO CRÂNIO, INSUFICIÊNCIA RESPIRATÓRIA GRAVE, AFUNDAMENTO FRONTAL COM HEMORRAGIA INTERNA E RUPTURA DA ARTÉRIA TEMPORAL COM PARADA CARDÍACA”.

 
Como faleceu AYRTON SENNA:  Foi durante o Grande Prêmio de San Marino no circuito de Ímola, Itália, quando na curva de Tamburello, na volta número sete que Ayrton Senna saiu da pista e batendo contra o muro de contenção a 310 quilômetros por hora.
O que acabou com a vida de Ayrton não foi a grande desaceleração que resistiu quatro vezes a força da gravidade, também uma barra de metal da suspenção que atravessou a viseira do capacete como uma lança e produziu fraturas no crânio com perda de massa encefálica.
Depois do acidente, Senna com graves feridas em seu crânio ficou inconsciente, enquanto a corrida era suspendida e as assistências médicas se aproximavam até seu veículo. Realizou-se imediatamente uma traqueotomia no mesmo circuito e posteriormente foi transferido de helicóptero ao hospital de Maggiore de Bolônia, onde permaneceu em coma algumas horas antes de falecer.
Este lamentável fato ocorreu um dia depois que outro piloto, o austríaco Roland Ratzenberger também falecera durante a classificação na curva Gilles Villeneuve.
A razão pela qual a Williams FW16 de Senna fora lançada para fora enquanto realizava a curva de Tamburello foi a ruptura da barra de direção de seu carro, isto pode se comprovar em julgamento que levou vários anos na Itália. A equipe Williams jamais aceitou sua responsabilidade, muito menos os engenheiros que foram encarregados da pobre mudança na coluna de direção que Senna havia pedido previamente, a qual foi de péssima qualidade provocando que Ayrton Senna ficasse praticamente sem o controle do carro justo na curva mencionada.
Este acidente marcou um antes e um depois sobre as medidas de segurança das corridas de Fórmula 1.
Seu caixão foi levado pelas ruas de São Paulo em um caminhão dos bombeiros seguido por milhares de pessoas. Foi sepultado com honras de chefe do Estado no cemitério de Morumbi.
 http://comomorreu.com/menor-de-50-anos/como-morreu-ayrton-senna/
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O QUE SE NOTICIOU  

A morte de Ayrton Senna, em maio de 1994, foi uma comoção nacional. O governo brasileiro declarou três dias de luto oficial e concedeu ao piloto honras de chefe de Estado.

Fonte: Memoria Globo


A Globo acompanhou ao vivo o acidente, durante a transmissão da corrida em Ímola. O repórter Roberto Carbini, que estava no local, seguiu imediatamente para o hospital, em Bolonha, para onde Senna foi levado minutos depois. De lá, o repórter enviou para o Brasil – através de um telefone celular – boletins sucessivos sobre o estado do piloto. O país inteiro parou. Às 13h40 (horário de Brasília), a TV Globo anunciou a morte de Senna para os milhões de telespectadores que aguardavam ansiosamente alguma notícia do ídolo. 
Roberto Cabrini conta como foi noticiar a morte do piloto: “Foram vários boletins, cada um com o estado de saúde mais grave do que o outro. E eu convencido de que ele tinha morrido porque, no primeiro boletim, os médicos disseram que estavam fazendo de tudo para salvá-lo, mas, no segundo, deram uma entrevista coletiva enorme. A essa altura, outros repórteres já tinham chegado. E o médico que está fazendo de tudo para salvar alguém não fica dando entrevista coletiva, fica ao lado do paciente para salvá-lo. Então, eu vi que era apenas uma questão de tempo para ser anunciada a morte. E foi isso que aconteceu: um boletim com o estado de saúde mais grave que o outro, a morte cerebral e, por fim, o anúncio da morte. Eu sabia que era como anunciar a morte de um parente próximo de cada um dos brasileiros. Era preciso manter a precisão das informações e, ao mesmo tempo, passar emoção. Esta era a forma de se demonstrar todo o apreço e respeito que o Brasil tinha pelo Senna”. 
Apesar de a justiça italiana determinar que a corrida seja interrompida em caso de morte, o Grande Prêmio de San Marino prosseguiu. Assim que terminou a transmissão, Galvão Bueno seguiu de helicóptero para o hospital em Bolonha, onde recebeu a notícia da morte de Senna. Naquele dia, o narrador esportivo ficou afastado da cobertura jornalística, ocupando-se do trabalho de liberação do corpo para que fosse feito o traslado para o Brasil.
O comentarista  Reginaldo Leme, que também participara da transmissão do Grande Prêmio, seguiu para Bolonha, de onde foi ancorada grande parte do Fantástico daquele domingo. Especialmente dedicado à cobertura da morte de Ayrton Senna, o programa exibiu imagens do acidente e da reação emocionada dos fãs. As ruas de São Paulo e Rio de Janeiro ficaram desertas. Nos estádios de futebol, as torcidas improvisaram faixas e cartazes e gritaram o nome do piloto. O locutor esportivo Galvão Bueno falou emocionado sobre a perda do ídolo e amigo pessoal.  Os dois se conheceram no Grande Prêmio da Bélgica de 1982, dois anos antes de Senna ingressar na Fórmula-1, e se tornaram grandes amigos. Para Galvão, Senna era como um irmão mais novo. Ao vivo da Itália, o repórter Pedro Bial  mostrou imagens exclusivas feitas pelo cinegrafista da Globo, o francês Armand Deus, no box da Williams, antes da corrida. Ayrton Senna aparecia contemplando o carro com fisionomia grave durante um longo período. Na véspera do Grande Prêmio em Ímola, o piloto austríaco Roland Ratzenberger tivera um acidente fatal durante os treinos. E, na sexta-feira anterior, Rubens Barrichello se acidentara no mesmo circuito. Senna declarou-se preocupado com a falta de segurança na Fórmula-1.
William Bonner, que na época era apresentador e editor-chefe do Jornal Hoje, fala sobre o texto que escreveu sobre o piloto: “Quando o Ayrton Senna assinou um contrato multimilionário com a McLaren. O mundo inteiro noticiou, foi o contrato mais absurdo da história da Fórmula-1 até aquele momento. Fiz uma crônica sobre isso, tecendo um paralelo a partir do nome dele, Ayrton Senna da Silva, com os demais ‘Silvas’. Ele era o Ayrton ‘Brasileiro da Silva’, o outro era o ‘Brasileiro da Silva’ comum. E o Brasileiro da Silva comum adorava um domingo de sol com praia, já o Silva que era Senna, não: domingo bom para ele era com chuva, porque gostava de dirigir na chuva. Eu ia costurando o texto assim, e tinha um tom para cima. Durava, sei lá, um minuto, mas foi muito marcante para mim. Quando o Senna morreu, em 1994, eu não estava trabalhando. Era um domingo, mas fui para a redação. Precisava fazer um texto sobre o Senna naquele dia. Liguei para o meu pai e pedi que me ditasse o texto que eu havia feito anteriormente. Meu pai tinha tudo arquivado. Ele ditou e eu adaptei a mesma crônica para a morte do Senna, com os mesmos paralelos, mas com um tom mais, digamos, funesto, soturno. E ficou um negócio muito impressionante.” 
No Jornal Nacional de 2 de maio, o apresentador Sergio Chapelin informou que o presidente Itamar Franco havia se empenhado pessoalmente para facilitar o translado o corpo de Senna. Foi decretado luto oficial de três dias e ponto facultativo nas repartições públicas de São Paulo no dia 5, quando seria realizado o enterro no cemitério do Morumbi. Da Itália, Pedro Bial informou sobre a repercussão da morte de Senna. A notícia foi manchete nos jornais de todos os países europeus e abriu a maioria dos telejornais. Em Portugal, a repórter Miriam Dutra entrevistou a namorada de Senna, Adriane Galisteu, que tinha visto o acidente pela televisão
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Polêmica: SENNA MORREU AINDA NO CIRCUITO DE IMOLA OU APENAS DEPOIS DE CHEGAR AO HOSPITAL MAGGIORE? RETZENBERGER TAMBÉM MORREU NA PISTA NA VÉSPERA?

Fonte: Memoria Globo
Uma questão que foi levantada na ocasião era se Ayrton Senna morrera ainda no circuito de Ímola ou apenas após chegar ao hospital. De acordo com a legislação italiana, a corrida deve ser interrompida em caso de morte, o que não aconteceu naquele domingo.
Segundo o jornal Folha de S. Paulo, em 4 de maio, os legistas que fizeram a autópsia no corpo de Ayrton Senna afirmaram que ele teve morte cerebral instantânea. E, segundo o jornal, os dirigentes da Fórmula-1 souberam que ele tinha morrido antes de reiniciarem a prova. Também foi revelado que o piloto austríaco Roland Ratzenberger morrera na pista durante os treinos de sábado, véspera do Grande Prêmio de San Marino, e não no hospital, como foi divulgado oficialmente. A justiça da Itália poderia ter interditado o autódromo para abertura de inquérito. Mas os dirigentes da Fórmula-1 teriam omitido deliberadamente essa informação para evitarem o cancelamento do GP.  
Naquela noite, o Jornal Nacional exibiu uma reportagem de Roberto Cabrini  na qual Bernie Ecclestone, presidente da FOCA (Associação dos Construtores da Fórmula-1), afirmava com veemência que o piloto brasileiro não morrera na pista e que ele nada tivera a ver com o reinício da corrida.
 http://memoriaglobo.globo.com/programas/jornalismo/coberturas/ayrton-senna-morte/polemica.htm
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 Piloto bateu e morreu na hora
DA REPORTAGEM LOCAL
Fonte: FOLHA DE SÃO PAULO 08/05/1994
Ayrton Senna morreu no dia 1º de maio, segundos depois de bater seu carro no muro da curva Tamburello, no circuito de Imola, durante o Grande Prêmio de San Marino de Fórmula 1.
O piloto havia largado na pole position. Era o terceiro GP da temporada. Senna liderava a corrida. Precisava ganhar. Estava sem marcar pontos este ano. Seu rival, Michael Schumaker, estava a 0s682.
A batida ocorreu quando ele iniciava a sétima volta. Às 14h12 locais (9h12 em Brasília) a Williams/Renault de Senna passou reto na curva onde Nélson Piquet também havia se acidentado em 1987 –coincidentemente, outro 1º de maio.
O piloto foi retirado do carro 1 minuto e 40 segundos depois do acidente. Seu coração não batia. A circulação sanguínea estava quase interrompida. Estava morto.
A equipe médica o socorreu como de praxe. Para reanimá-lo, retiraram a parte de cima de seu macacão. Abriram um corte de um centímetro no seu pescoço. Ali, introduziram um tubo para que o ar entrasse em seus pulmões.
O corpo do piloto chegou às 14h44 locais (9h44 em Brasília) no hospital Maggiore, de Bolonha, norte da Itália. Segundo o médico Giovanni Gordini, da unidade de reanimação, o coração de Senna batia com o auxílio de equipamentos.
Com o impacto no muro, Senna sofreu fraturas múltiplas na base do crânio, afundamento frontal, ruptura da artéria temporal e hemorragia no sistema respiratório.
A morte do piloto só poderia ser dada como certa depois de constatado o fim da atividade cerebral. Isso era impossível na pista. Apesar das lesões, havia a possibilidade remota de o cérebro ter resistido.
Em casos de acidente, é comum a equipe de salvamento fazer com que o coração da vítima volte a bater. No hospital Maggiore, um exame mostrou que o cérebro do piloto estava morto. Se o coração continuasse batendo, Senna vegetaria.
Ayrton Senna foi dado como morto oficialmente às 18h42 (13h42 em Brasília).
Se um piloto morre na pista, a prova tem que ser interrompida. Nos treinos de sábado, dia 30 de abril, havia morrido na pista o piloto austríaco Roland Ratzenberger. Na sexta-feira, Rubens Barrichello se acidentou e não pôde participar da prova.
Uma morte na pista, mesmo em treino, impede a realização do GP de Imola. As mortes instantâneas de Senna e de Ratzenberger só se confirmaram com o resultado da autópsia: na terça-feira, dia 3 de maio.
"Ele está morto. Mas nós só vamos anunciar isso quando ele chegar ao hospital", teria dito Bernie Ecclestone, presidente da Foca (Associação dos Construtores de F-1), a Leonardo Senna.
Ecclestone nega. Michael Schumacher venceu o GP de Imola. Lidera o campeonato de F-1 com 30 pontos.
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Base do crânio explodiu, descreve legista
FLAVIO GOMES
DO ENVIADO ESPECIAL
Fonte: FOLHA DE SÃO PAULO 04/05/1994 
A autópsia no corpo de Ayrton Senna começou a ser feita ontem às 10h locais (5h de Brasília) pelos legistas Michele Romanelli e Pierludovico Ricci, do Instituto Médico Legal de Bolonha. O laudo oficial tem 60 dias para ser preparado.
A Folha conversou com uma médica do IML que viu o corpo de Senna na segunda-feira de manhã(02/05) e ontem –antes e depois da autópsia. Segundo sua descrição, no dia seguinte ao acidente o rosto do piloto estava desfigurado. A médica pediu para que seu nome não fosse revelado.
Muito inchada, a cabeça quase se juntava aos ombros. Os médicos concluíram, após a autópsia, que Senna teve morte instantânea na batida a 290 km/h na curva Tamburello. Teve também parada cardíaca naquele momento e circulação praticamente interrompida.
Quando os médicos o reanimaram –ativando os batimentos cardíacos e a circulação artificialmente–, o piloto já havia morrido. A atividade cerebral era inexistente. Não há possibilidade de sobrevivência nesses casos.
Segundo a médica, a parte superior do corpo de Senna "parecia uma pirâmide". O tronco e os membros, porém, estavam intactos. "Não havia contusões. O problema foi na base do crânio, que explodiu", relatou. Ontem a cabeça estava menos inchada. O corpo do piloto foi vestido com um terno preto, gravata cinza e camisa branca comprados anteontem em Bolonha.
Não havia manchas de sangue nas costas do corpo. De acordo com a médica do IML, essas manchas são normais nas costas de pessoas mortas à espera de autópsia pela ação da gravidade.
"Ele já não tinha mais sangue", contou a médica. Na chegada do helicóptero ao hospital, uma enorme quantidade de sangue caiu no chão quando as portas foram abertas. Senna recebeu 4,5 litros de sangue no vôo de 12 minutos entre a pista e o hospital Maggiore, de Bolonha.
Senna foi autopsiado antes de Roland Ratzenberger, piloto austríaco da equipe Sauber, morto no sábado durante os treinos para o GP de San Marino.
Os dois corpos estavam lado a lado nas mesas do IML ontem. Ainda segundo a médica, apenas um ramalhete de flores foi deixado por torcedores ao austríaco. Senna recebeu centenas.
(FG)
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EX CHEFE DA FIA E DESAFETO DO PILOTO,  ABSOLVE SENNA DE CULPA NO ACIDENTE

Dirigente duvida de erro do piloto
O ex-dirigente mundial do automobilismo, Balestre
ANDRÉ LAHOZ
DE PARIS
"É muito difícil que tenha sido um erro de pilotagem." Assim Jean-Marie Balestre definiu o acidente de Ayrton Senna na estação de rádio France Inter na única entrevista que concedeu ontem.
Balestre é ex-presidente da Federação Internacional de Automobilismo. Suas brigas com Ayrton Senna se tornaram famosas. Senna o acusava de proteger o também fracês Alain Prost, seu rival.
Balestre vem se recusando a falar com a imprensa. Aceitou ir à rádio dizendo que essa seria sua única entrevista.
Ficou incomodado ao saber que havia outro jornalista, mas aceitou falar à Folha, com exclusividade.
"Estou arrasado com a morte de Senna", disse o atual presidente da Federação Francesa de Automobilismo.
"Falavam muito sobre as minhas brigas com Senna", disse o francês. "Mas pouca gente sabe que há três anos Ayrton Senna me mandava uma carta no Natal, escrita do próprio punho. E não é só. Tenho um volante que ele me presenteou no ano em que foi tri-campeão. Tenho também um capacete dele. Estou muito triste."
Após essa declaração, Balestre não quis fazer qualquer outro comentário. Mas foi duro durante o programa: "É preciso tomar medidas enérgicas e autoritárias."
"Eu proibi o turbo na Fórmula 1 exatamente porque era incontrolável", disse Balestre. "É preciso diminuir a potência dos carros. A velocidade está alta demais."


COMAS EXPLICA SUA ATITUDE APÓS ACIDENTE DE SENNA
O piloto francês Erik Comas, da Larrousse, criticou a organização da prova.
"Por um erro de um comissário, me deixaram partir enquanto Senna estava sendo retirado da pista. Tive que brecar imediatamente. E então eu vi Senna. É um momento inesquecível para mim", disse.
Segundo Comas, todos os pilotos estavam arrasados com a morte de Ratzenberger. "Senna me disse que iríamos todos fazer uma reunião para discutir segurança nessa sexta, antes do GP de Mônaco."
No domingo de manhã, horas antes de sua morte, Senna estaria ao lado de Comas. O brasileiro estava preocupado com tudo relacionado à segurança na F-1.
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Causa da batida vai ser revelada
HUMBERTO SACCOMANDI
DA REPORTAGEM LOCAL
FOLHA DE SÃO PAULO 04/05/1994
A perícia no carro do piloto brasileiro Ayrton Senna pode identificar as causas do acidente, apesar dos estragos causados ao veículo pela batida.
Quem diz isso é o físico brasileiro Osvaldo Negrini Neto, da ONN Consultoria Pericial, que faz perícias em acidentes de trânsito.
Segundo ele, é possível identificar, por exemplo, se uma peça quebrou por tensão estrutural (durante a corrida) ou pelo impacto no muro. A tensão estrutural deixa marcas diferentes na peça.
"Obviamento é difícil encontrar esses vestígios, mas isso já foi feito antes e eles têm na Itália laboratórios especializados capazes disso", afirmou Negrini.
Outro modo de descobrir uma quebra durante a corrida é analisar marcas deixadas nos fragmentos das peças. Esses fragmentos foram recolhidos pela perícia italiana.
"Se uma peça da suspensão quebrou enquanto a roda ainda estava girando, isto é, durante a corrida, pode haver marcas ou sulcos circulares", disse. A peça quebrada deixa marcas nas outras.
Segundo ele, com uma peça dessas é possível estabelecer se houve tensão de movimento (peça quebrou em movimento) ou tensão de impacto (quebrou no impacto).
A perícia poderá ainda determinar o que causou as fraturas no crânio do piloto brasileiro. Negrini acredita que o piloto bateu de cabeça contra a parede.
"Àquela velocidade, num impacto frontal de cabeça, a proteção oferecida pelo capacete é muito pequena. Ter capacete ou não dá quase na mesma", disse Negrini.
Pelos resíduos de tinta na parede, os peritos italianos poderão identificar a posição exata da Williams de Senna no momento do choque. Isso e vestígios no capacete poderão revelar se ele bateu mesmo a cabeça no muro.
A análise técnica dos restos do carro de Ayrton Senna será feita pela polícia italiana, com a ajuda de consultores especializados.
O relatório com os resultados será enviado à Justiça italiana, que está realizando um inquérito para apurar as responsabilidades pela morte de Senna.
(HuSa)
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Senna não teve tempo de reação
Senna não teve tempo de reação
Da Reportagem Local
Ayrton

DA REPORTAGEM LOCAL
FOLHA DE SÃO PAULO 04/05/1994
Ayrton Senna não teve tempo de reação no acidente que o matou em Imola, durante o GP de San Marino. Ele bateu contra o muro cerca de 4 décimos de segundo depois de perder o controle do carro.
Segundo o perito brasileiro Osvaldo Negrini Neto, a capacidade de reação do homem normalmente não é menor inferior a 5 décimos (meio segundo). Isso explica por que Senna não tentou brecar.
O piloto italiano Michelle Alboreto afirmou à TV de seu país que se o carro tivesse um dispositivo eletrônico de segurança, a batida de Senna poderia não ter sido fatal.
O dispositivo bloquearia as rodas em caso de quebra de alguma parte mecânica ou perda de aderência. Isso não evitaria a batida, mas poderia reduzir a velocidade em 50 km/h, atenuando o impacto.
Segundo Alboreto, uma diferença de 50 km/h numa batida como a de Senna pode significar a sobrevivência do piloto. A perícia italiana ainda não precisou a velocidade.
Negrini concorda com Alboreto. Para o perito, os dispositivos de comando eletrônicos (proibidos este ano na Fórmula 1) reagem em menos de 1 décimo de segundo.
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 PATRICK HEAD TENTA BOTAR A CULPA DO ACIDENTE EM FALHA DE SENNA
Equipe faz ataque a declaração de seu diretor
SÉRGIO MALBERGIER
DE LONDRES
FOLHA DE SÃO PAULO 04/05/1994
A escuderia britânica Williams negou ontem as declarações de seu diretor técnico, Patrick Head. Ele havia dito anteontem que uma falha de Ayrton Senna foi a causa do acidente que o matou.
"A equipe quer deixar claro que qualquer teoria sobre a causa do acidente de Ayrton Senna que apareceu na imprensa é mera especulação", diz um comunicado.
A escuderia reafirmou que só falará sobre as causas do acidente após analisar "todos os dados disponíveis", inclusive o carro de Senna, que ainda está retido na Itália.
A caixa-preta com os registros do desempenho do carro na corrida de Imola já está sendo analisada.
O dono da escuderia, Frank Williams, confirmou sua presença amanhã no funeral de Senna. Mas o outro piloto da equipe, o britânico Damon Hill, ainda não decidiu se irá ao Brasil.
Ele tem um treino marcado para a quinta-feira em Silverstone, programado desde o início da temporada, e não decidiu aode vai.
Evitando a imprensa desde que chegou a Londres na segunda-feira, Hill divulgou um "tributo a Ayrton Senna" ontem, onde diz:
"Apesar de toda a sua preocupação com segurança, ele nunca foi cauteloso no cockpit. Ele teve um desempenho 100% todo o tempo e com isso ganhou a admiração de todos. Eu nunca esquecerei o meu breve período trabalhando com ele e me considero privilegiado por ter sido seu parceiro."
Frank Williams e Patrick Head reuniram ontem todos os funcionários da fábrica da empresa em Didcot (centro da Inglaterra) para relatar o ocorrido no fim-de-semana em Imola.
Como anteontem, dezenas de fãs deixaram flores no portão da fábrica em homenagem a Ayrton Senna.
(SM)
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 OS SUBSTITUTOS DE SENNA COTADOS NA WILLIAMS
Prost e Patrese estão cogitados
FLAVIO GOMES; SERGIO MALBERGIER
DO ENVIADO ESPECIAL E DE LONDRES
FOLHA DE SÃO PAULO 04/05/1994
A idéia de Frank Williams, de disputar o resto da temporada de 94 com um carro, pode ter que ser abandonada devido aos patrocinadores da equipe.
A Rothmans (cigarros) e a Segafredo (café), empresas que ocupam a maior parte dos espaço publicitário nos Williams, teriam sua visibilidade reduzida à metade com um carro só.
O candidato a substituto mais forte até agora é o veterano Riccardo Patrese, 40, demitido pela Benetton no ano passado.
O italiano é recordista em participações na F-1, com 256 GPs disputados. Tem seis vitórias e oito poles na carreira.
Ele e Frank se dão muito bem. Riccardo foi piloto da Williams de 88 a 92. Ganhou quatro provas pela equipe.
Sempre foi considerado um excelente acertador de carros e foi um dos responsáveis pelo desenvolvimento das suspensões ativas que o time usou até 93.
Outro possível substituto de Senna é o inglês Derek Warwick, 39. Williams quer pilotos experientes, para evitar mais acidentes. O escocês David Coulthard, visto como "protegido" de Frank Williams, deve continuar como piloto de testes, apenas.
O tablóide inglês "Today" chegou a dizer ontem que a Williams teria oferecido a Prost US$ 18 milhões, quase US$ 1,5 milhão (cerca de CR$ 2 bilhões) por corrida, para ele voltar às pistas.
A preferência por Prost seria justificada pelo fato de a Williams precisar de alguém de famoso para substituir Senna. Prost é tetracampeão da F-1.
(FG e SM)
https://www1.folha.uol.com.br/fsp/1994/5/04/esporte/24.html


A investigação penal torna-se imprescindível
WALTER CENEVIVA
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS
FOLHA DE SÃO PAULO 04/05/1994
"Senna in lacrime sospende le prove" (Senna em lágrimas suspende os treinos) é um dos títulos principais do "Corriere della Sera", de Milão, na edição matutina do domingo, falando da reação do tricampeão, depois da morte de Ratzenberger.
Em outro título a terrível verdade: "Una pista inadeguata per il Circo della F.1". Hoje as lágrimas são para o próprio Senna, o que é muito triste para o Brasil.
O autódromo está interditado, há investigações policiais. Sob o ponto de vista jurídico essas investigações são imprescindíveis, para verificação da hipótese de homicídio culposo.
Houve mortes violentas, que ninguém desejou. Contudo, é possível que alguém tenha deixado de tomar os cuidados necessários para a segurança dos pilotos.
A possibilidade de negligência e imprudência dos organizadores da prova e dos responsáveis pelo autódromo demonstra a importância da investigação.
Duas mortes, em três acidentes gravíssimos, exigem a averiguação penal. No caso de Ratzenberger pode ter havido imperícia na fixação do aerofólio dianteiro.
A imperícia é um dos elementos da culpa penal, que surge quando há erro profissional. No caso de Senna e no de Barrichello as hipóteses são diversas.
Terá havido negligência dos organizadores e da Federação Internacional de Automobilismo, impondo condições de corrida em que era razoável a previsão de muitos acidentes graves, para mais além do que se pode esperar de profissão perigosa.
Examinada a questão do autódromo, é fácil de perceber que a falta de brita ao lado da pista, o eventual ressalto no acabamento do cimento, entre o asfalto e a grama, fazendo com que o carro erguesse e voasse, a ausência de proteção adequada junto ao muro podem ter extrapolado a normalidade dos riscos.
Se qualquer dessas alternativas for verdadeira, os responsáveis devem ser processados. Independente da responsabilidade penal, caberá a responsabilidade civil.
A culpa, porém, não se presume. Depende de prova cabal. Por isso mesmo é que a seriedade das averiguações deve ser acompanhada com atenção.
 https://www1.folha.uol.com.br/fsp/1994/5/04/esporte/34.html



Pistas devem continuar perigosas
EDUARDO VIOTTI
EDITOR DE VEÍCULOS
FOLHA DE SÃO PAULO 04/05/1994
O tricampeão mundial de Fórmula 1 Nélson Piquet, 42, permanece fiel ao velho estilo. Para ele, correr de automóvel é algo "romântico" e pistas perigosas devem ser mantidas no calendário, sob o risco de a categoria principal do automobilismo mundial "perder totalmente a graça".
Piquet foi o entrevistado de anteontem à noite no programa "Roda Viva" da TV Cultura de São Paulo, que contou com a participação da Folha.
Na entrevista, o ex-piloto de F-1 confirmou que a regra não-escrita da competição é a remoção do corpo de um piloto, mesmo que morto no local, para o hospital.
Oficialmente, afirmou Piquet, o piloto morre no hospital. Segundo ele, se a morte do piloto é constatada na pista, a corrida pára, e o espetáculo do circo da F-1 é interrompido.
Disse ainda que a equipe Williams jamais vai admitir que houve falha mecânica no carro.
Mesmo assim, Nélson Piquet disse não ter nada a criticar em relação aos dirigentes da modalidade. Para ele, não há necessidade da criação de uma associação de pilotos e não é urgente a mudança nos regulamentos.
"A F-1 é o que é, os pilotos têm cada vez mais projeção e ganham cada vez mais por causa dos cartolas", afirmou.
Segundo o tricampeão, não há qualquer relação de causa e efeito entre o fim-de-semana mais trágico da história recente da F-1 e as recentes mudanças no regulamento da competição.
Imola, a terceira corrida da temporada, foi a primeira pista realmente rápida a receber os carros mais velozes da Fórmula 1 com pneus mais finos, sem suspensão inteligente e sem controle eletrônico da tração.
Para ele, as mudanças foram benéficas. "O que saiu foram equipamentos que tornavam mais fácil guiar o carro. Não eram equipamentos de segurança", afirma.
Piquet descarta categoricamente a possibilidade de o acidente que matou Ayrton Senna ter sido causado por falha humana. Ele sofreu um acidente no mesmo local, também com um Williams e no dia 1º de maio, em 1987.
"Tamburello (nome da curva onde ocorreram as batidas) não é propriamente uma curva. É uma reta torta. Mesmo com chuva, é feita com o pé no fundo. Não tem jeito de errar", afirmou.
Para Piquet, a existência de colunas de pneus ou de uma caixa de brita (piso de pedras pequenas soltas) no local "não iria adiantar absolutamente nada".
O tricampeão disse que Senna não falharia ali. "Ele era um cara jovem, bem preparado fisicamente e psicologicamente. Se estava preocupado, era com a possibilidade de perder o GP para Schumacher, o que o deixaria em má situação no campeonato."
Quanto à questão da segurança da pista italiana onde é realizado o Grande Prêmio da República de San Marino (que não dispõe de autódromo), Piquet disse que o risco faz parte da profissão.
"Se o piloto não quer correr riscos, pode pegar as suas coisas e voltar para casa, mudar de profissão", afirmou.
Para ele, o perigo é parte também do espetáculo. "Por quê você acha que todo mundo quer ver as largadas?", pergunta. "É para ver o circo pegar fogo mesmo", responde.
Mesmo reconhecendo que há dias em que a disposição para largar é muito pequena, Piquet descarta a possibilidade de um piloto profissional recusar-se a participar de um GP por questões psicológicas, como medo ou depressão.
"Você tem medo de situações específicas, como uma largada. Pode haver um acidente e você vai bater, a pista se fecha e não há escapatória", disse.
"O que não dá é para um profissional se recusar a sentar no carro de corrida. O Senna nunca faria isso", disse.
"Já fiquei com vontade de largar a Fórmula 1 e não voltar mais. Mas não por medo. Fiquei de `saco cheio' de não ter um lugar fixo, de ter minha casa, meus cachorros", disse.
Ele garantiu que se seu filho Geraldinho estivesse na disputa do campeonato deste ano não o chamaria de volta ao Brasil. "O importante é que se esteja fazendo o que gosta", disse. Longe das câmeras, completou "é melhor que ficar fumando maconha por aí".
"Se não, vira tudo corridinha de `Mickey Mouse', aquela coisinha japonesa de uma curvinha para a esquerda, uma curvinha para a direita, retinhas curtas. Aí não tem graça de pilotar", brincou.
Para ele, se for para acabar com a corrida italiana, outras pistas também devem ser sacrificadas, como Adelaide, na Austrália, Monte Carlo, em Mônaco entre outras.
Se Piquet não tem nada a reclamar dos dirigentes do circo internacional do automobilismo, acha que pouca coisa está sendo feita em proveito do automobilismo nacional.
"O negócio é investir em categorias regionais. Se no Sul tem rali, tem que incentivar rali. Os caras só querem saber de trazer corridas internacionais, F-1 e mundiais de motociclismo. Por quê? Porque dá dinheiro".
Correndo de kart –"por puro prazer de guiar", garante–, Nélson Piquet sustenta que não vai mais voltar às pistas como profissional.
"Já recebi propostas para correr de carros de turismo (feitos a partir de carros de passeio) na Alemanha. Agora quero correr quando tiver vontade. Quero poder chegar e dizer: Hoje eu não corro".
O piloto pretende disputar duas corridas de longa duração (24h) nos próximos dias. Segundo diz, como amador.
https://www1.folha.uol.com.br/fsp/1994/5/04/esporte/35.html
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Alemão viu falha no Williams
FLÁVIO GOMES
DO ENVIADO ESPECIAL
FOLHA DE SÃO PAULO 03/05/1994
A falta de segurança do circuito de Imola e a provável quebra da suspensão traseira do Williams foram as explicações dadas por especialistas para o acidente que matou Ayrton Senna.
A descrição mais confiável partiu do alemão Michael Schumacher, da Benetton. O piloto, que estava logo atrás de Senna na hora do acidente, disse que o Williams tinha um comportamento "nervoso" na entrada da Tamburello.
Michael disse que viu o fundo do carro de Senna tocar o solo e sair de controle na curva.
Não houve tempo de frear.
A velocidade ali é de quase 300 km/h. Da pista até o muro, há uma faixa de cimento de oito metros.
O choque foi lateral e Senna bateu com a cabeça no muro.
Os pilotos que disputaram o GP de San Marino dizem que o piso da pista está muito irregular.
O fundo de um F-1 fica a 6 cm do chão. Em alta velocidade, se a suspensão cede ou se há uma grande ondulação é difícil controlá-lo.
Os pilotos criticam a ausência de área de escape nos pontos mais velozes e a inexistência de pilhas de pneus junto aos muros.
(FG)
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"Morreu uma parte de minha vida", diz Prost
ANDRÉ LAHOZ
DE PARIS
FOLHA DE SÃO PAULO 03/05/1994
"A morte de Ayrton Senna representa também a morte de parte de minha vida."
Foi assim que o ex-piloto francês Alain Prost definiu o significado do desastre ocorrido com o seu maior rival à televisão francesa TF1. "Eu precisava de Ayrton assim como ele precisava de mim."
"Eu tenho o maior respeito por Ayrton Senna", disse o francês. "Um respeito que vai além da enorme diferença entre nossas personalidades."
"Nunca fomos muito próximos, e nos afastamos mais quando eu abandonei a F-1 e toda a rivalidade que a cerca. Fiquei surpreso com a mensagem que ele me deixou, dizendo que eu lhe fazia falta. O que posso dizer é que ele também vai fazer muita falta a todos."
Prost disse que preferiria não fazer nenhuma declaração. Procurado pela Folha, ele se recusou a falar mas avisou que estaria à noite na televisão.
Segundo Prost, Senna havia mudado nos últimos tempos, embora talvez nem todos tenham percebido. "A própria maneira de dirigir estava diferente. Talvez seja normal com o passar dos anos. Mas o fato é que Ayrton estava mais cuidadoso."
Para o francês, o brasileiro "tinha conciência de que o esporte e os carros estavam cada vez mais perigosos". Considerava que a mudança tornava Senna "ainda mais estranho e bizarro".
Sobre o acidente, Prost disse ter uma certeza: "Não foi um erro de pilotagem. Alguma ruptura mecânica fez com que Ayrton perdesse o controle do carro. O grave é que naquelas condições não há quase nada que o piloto possa fazer".
Prost voltou a atacar os dirigentes do automobilismo. "É preciso calma, não dá para afirmar que o acidente poderia ter sido evitado se as regras fossem outras. Nunca acabaremos com 100% do risco da Fórmula 1. Mas o que certamente dá para dizer é que o risco poderia ser bem menor, e só não o é porque é preciso criar um espetáculo", disse o francês. "A velocidade dos carros tem que diminuir."
Prost afirmou tratar-se de um fim-de-semana excepcional, e que o mínimo que pode acontecer é que as pessoas responsáveis tirem lições dos tristes eventos.
"Os pilotos são como marionetes nas mãos das equipes e dos dirigentes. Parte da culpa também é dos pilotos, que não se organizam para melhorar as coisas", disse.
Para ele, os vários acidentes graves que acabaram não resultando em danos físicos aos pilotos deram a ilusão que a tecnologia garantia a vida dos pilotos.
"É preciso dizer claro: Barrichello escapou por milagre."
Prost também ficou irritado com o fato de as equipes não terem avisado os pilotos sobre Senna.
"Eu acho que a corrida deveria ter sido interrompida. Se fosse comigo, eu gostaria de saber o que realmente estava se passando. É uma questão de decência e acho que foi uma falta de respeito."
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Gerhard Berger explica comemoração em Imola
CLÓVIS ROSSI: ANDRÉ LAHOZ
DOS ENVIADOS ESPECIAIS A MÔNACO
Fonte: FOLHA DE SÃO PAULO 15/05/1994
O piloto austríaco Gerhard Berger fez questão de explicar ontem o motivo pelo qual houve uma festa, embora contida, no pódio do GP de San Marino, em Imola, mesmo tendo morrido Ayrton Senna.
Berger disse que os pilotos careciam de informações sobre a seriedade do estado de saúde do brasileiro, no momento em que terminou a corrida e eles subiram ao pódio.
Os pilotos sabiam que houvera um acidente grave, como é óbvio, até porque a corrida foi interrompida e depois reiniciada. Mas não sabiam quão grave era a situação de Ayrton Senna.
"Essa é a razão pela qual os pilotos não seguiram, no pódio, o comportamento que muitos poderiam esperar", disse Berger, que se transformou no líder dos pilotos.
Estavam no pódio o ganhador de Imola, o alemão Michael Schumacher, o italiano Nicola Larini (substituto do francês Jean Alesi na Ferrari) e o finlandês Mika Hakkinen.
Dois deles (Schumacher e Hakkinen) estavam ao lado de Berger, ao dar a explicação, por terem sido os dois primeiros colocados na prova final de classificação para o GP de Mônaco. Berger foi o terceiro.
Desde sexta-feira, ele é um dos quatro porta-vozes da recriada GPDA (Associação dos Pilotos de Grande Prêmio). Os outros são o brasileiro Christian Fittipaldi, o alemão Michael Schumacher e o tricampeão austríaco Niki Lauda, que já se afastou das pistas de Fórmula 1.
(CR e ALz).
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Texto de Flavio Gomes publicado no livro ‘AYRTON SENNA, O HERÓI DA MÍDIA’,
de Paulo Scarduelli, escrito em fevereiro de 1995,
nove meses após a morte do piloto brasileiro.

Há nove meses ensaio a abertura deste texto. Por uma série de circunstâncias eu, o enviado especial do maior jornal do país que estava lá, em Imola, naquele dia, nunca escrevi sobre a morte de Ayrton Senna. De certa forma, sou um privilegiado. Não caí na vala comum. Não elaborei teorias. Não filosofei em público. Fui demitido antes. Estou isento. Ninguém pode me acusar de omissão.
‘È morto’, assim imaginei a primeira frase. Abrir com aspas, desde que seja uma declaração forte, importante, decisiva. É o que ensinam alguns manuais de redação.
‘È morto.’ Estávamos parados na fila do pedágio, na entrada de Bolonha, no carro que eu aluguei. Um Fiat Punto vinho metálico, sem rádio. Eu dirigia. Ao meu lado, Mario Andrada e Silva, do Jornal do Brasil. Meu ‘partner’, o cara que começou no jornalismo comigo, na Folha, em 88. Eu editor-assistente, ele um ex-economista que resolveu virar jornalista, o sujeito que mais conhece Fórmula 1 no Brasil. Foi meu repórter, eu editor, depois trocamos as funções, mais adiante viramos concorrentes.
‘È morto.’ Sem rádio no carro, eu e o Mario vivíamos momentos de uma agonia indescritível. Saímos de Imola logo depois da corrida, direto para o Hospital Maggiore de Bolonha. No meio de um congestionamento monstruoso, a falta de notícias dava nos nervos. Sabíamos que ele ia morrer, arriscávamos até que já estava morto quando entrou naquele helicóptero. Mario dormiu no caminho. Era seu jeito de enfrentar a tensão. Eu, agitado, procurava algum jeito de fugir daquele mar de carros. Não dava.
No pedágio, pedi a ele que perguntasse ao carinha do carro ao lado se havia alguma notícia sobre Senna. ‘È morto’, respondeu o rapaz. Eram quase sete da noite. Comecei a tremer. Enquanto pegava as moedas no console, repetia ‘puta que pariu, puta que pariu, puta que pariu’.
É horrível admitir que minha primeira reação tinha a ver com o que me esperava nas próximas horas. De uma maneira ridícula, esqueci qualquer tipo de sentimento para me envolver com a cobertura. Não me venham com o papo furado de que fiz o que qualquer bom jornalista teria que fazer. É balela. Preferia ter chorado. Puta que pariu, puta que pariu. A gente não sabia onde ficava o Maggiore. Seguimos as placas e achamos. Descemos do carro correndo, como se fosse possível registrar os últimos suspiros do Ayrton, como se ele estivesse nos esperando para morrer.
Não gosto de lembrar, e provavelmente vou rechear estas linhas de clichês, coisas como ‘parece que foi ontem’. Mas parece mesmo. É indiscutível que essa foi a cobertura da minha vida, que jamais vou passar por coisa parecida. Por isso é natural lembrar de tantos detalhes com tamanha precisão. Fiz questão de guardá-los. Senti que poderia ser a última corrida da minha vida. Era preciso preservá-la.
Imola, sábado à noite. Saio do autódromo com uma sensação esquisita. Nunca tinha visto ninguém morrer ao vivo, perto de mim. Dou carona a uma jornalista alemã, Karen, que estava hospedada num hotel ao lado do nosso, em Riolo Terme -uma cidadezinha a 15 km do circuito. Ela chorava feito doida. Ratzenberger era seu amigo. Karen se envolvia demais com os pilotos. No caminho, exercitando um desconhecido inglês sentimental, tentava estancar aquela choradeira com as bobagens de sempre: acontece, esse negócio é perigoso, a Fórmula 1 precisa rever seus conceitos, calma, a gente tá vivo ainda, porra.
Não saímos para jantar. Estávamos no quarto eu, Mario e o Marcelo D’Angelo, da Rádio Eldorado. No mesmo andar, Lemyr Martins e Alex Ruffo, da Quatro Rodas. Cansados, fomos direto para a cama. O fim-de-semana vinha sendo desgastante. Na sexta, o acidente de Rubinho. Para piorar, um furgão da Williams atropelou a mala onde eu levava meu computador, na saída do autódromo. Foi uma aventura fazê-lo funcionar à noite. No sábado, morre um cara. Chega. Acaba logo antes que piore.
Como sempre, eu, Mario e Marcelo acordamos tarde no domingo. Um capuccino urgente e pista.
Duas horas antes da largada, cada um em seu posto. Os dois na cabine da Eldorado. Eu, na da Jovem Pan, onde era comentarista. Em Imola, as cabines de rádio ficam em containers sobre o terraço do edifício dos boxes. No andar logo abaixo fica a sala de imprensa. É muito ruim para transmitir. Locutores e cometaristas só têm à disposição dois monitores: um com as imagens da TV e outro com os tempos. O ar-condicionado não funciona direito e não há janelas.
Logo na largada, uma batida feia de Pedro Lamy em J.J. Lehto. Um sinal, talvez. Quando Ayrton bateu, berrei ‘Senna!’ no microfone. Apesar dos precedentes, não era para morrer. Caramba, o cara mexeu a cabeça! Não, não ia morrer. Mas percebi que havia algo de errado quando os comissários de pista chegaram ao carro e se mantiveram à distância. A partir daquele momento, a correria atrás de informações era frenética. Eram 9h13 quando Senna bateu na Tamburello. Subi e desci as escadas atrás de notícias uma dezena de vezes. Na segunda, terceira, sei lá, passei pela cabine da Globo. Galvão Bueno me perguntou se eu sabia de alguma coisa. Idiota, respondi que a corrida iria recomeçar, como se aquela fosse a informação mais importante do momento. ‘Eu quero saber se ele está vivo, porra!’, me disse o Galvão. Foi até gentil demais.
Soube que Ayrton estava morto ainda no autódromo, pelas informações que chegavam de Bolonha. Tivera paradas respiratórias e morte cerebral. A corrida não tinha terminado, e relutei em matar Senna antes da hora, no ar. No corre-corre, entre a cabine e a sala de imprensa, liguei para a redação do jornal. Não havia ninguém. Só consegui falar com meu editor por volta das 11h, horário de Brasília, no final do GP. ‘Pode se preparar para o pior’, disse. ‘O cara morreu.’ Ouvi, do outro lado da linha, que iríamos fazer um caderno de oito páginas. Ok, ok, estou indo para o hospital.
‘È morto.’ Quando entrei no saguão do Maggiore, a primeira pessoa que vi foi o Luiz Roberto, da Rádio Globo/CBN, de São Paulo. Com um celular, me colocou no ar, ao vivo. Não sabia direito o que dizer. Fazia meia hora que Senna tinha morrido e eu ainda não tinha me dado conta do tamanho da notícia. Procurei ser sensato. Disse que estava chocado e que o Brasil perdera um grande esportista. Muito original. A cabeça estava em outra. Quem ouviu a Adriane? E a família? E a Xuxa? E o presidente? Pela primeira vez, em oito anos de Folha, sentia que a edição fugia do meu controle. Maldito vício, esse de repórter que já foi editor querer editar tudo à distância. À minha esquerda, Nílson César, o locutor da Pan, me chama para uma entrada ao vivo também pelo telefone. No aparelho ao lado, Cândido Garcia, da Bandeirantes, faz o mesmo. Ameaço chorar quando ele se refere ao Mario, ‘seu grande amigo’, que disse não sei o quê. Naquele momento, naquele exato momento, caí na real. Percebi que uma fase da minha vida, das nossas vidas, tinha chegado ao fim. ‘Meu grande amigo’ Mario. Será que voltaríamos a nos ver uma vez a cada 15 dias, cada vez num país diferente, eu filando seu Marlboro Menthol Lights, ele usando meu shampoo?
É gozado esse egoísmo que tomou conta de mim. Pensava na minha vida, na minha carreira, na família que a gente formava e que nunca mais seria a mesma. Fim, fim. Não chorei e fiz um discurso indignado, algo do tipo ‘meu jornal me manda aqui para cobrir um evento esportivo e eu sou obrigado a relatar uma carnificina’. Cara, quanta bobagem.
Ficamos no hospital até as 21h30, quando, no 12º andar, vi uma maca passar à minha frente, com um corpo coberto por um lençol. Subi num banco para poder enxergar melhor. Abracei o Galvão. Abracei a Betise, assessora de imprensa do Senna. Não derramei uma lágrima. Precisava falar com o jornal, urgente.
Não havia mais nada a fazer no Maggiore. Tinha a hora da morte, 18h42, o comunicado da médica-chefe do Centro de Reanimação do hospital, vi as pessoas chorando no saguão, sabia o que tinha acontecido com Senna. Voltamos para o autódromo. Era hora de escrever. Jamais havia imaginado que um dia escreveria sobre a morte daquele sujeito. Antes, liguei para o jornal. ‘Temos isso, temos aquilo, temos fulano?’, falava, sem parar. Meu editor tentou me tranquilizar. ‘Se precisar, a gente faz tudo daqui.’ E reiterou: ‘Nada de emoção nos textos’. Fiquei puto. Como, a gente faz tudo daqui? Claro que vou escrever sem emoção! Mas quero um espaço para um texto em primeira pessoa. Vamos ver, vamos ver. Quando cheguei de volta a Imola, me informaram que não precisava de texto na primeira pessoa.
Havia poucas pessoas na sala de imprensa. Eu, Mario, Celso Itiberê, de O Globo, a Karen desesperada, alguns ingleses e japoneses. Poucos italianos, já que era 1º de maio e a maioria dos jornais não circulou no dia seguinte. Liguei meu velho Toshiba T1000 e o ‘lead’, surpreendentemente, saiu fácil. Tinha usado o ideal no dia anterior: ‘A Fórmula 1 matou ontem o austríaco Roland Ratzenberger…’ Era bom. Mas decidi escrever o texto mais gelado e despido de emoções da minha vida. Nem precisava. Há certos fatos que falam por si só. Dane-se o que o jornalista pensa. Resolvi usar uma construção inédita do meu repertório: ‘O brasileiro Ayrton Senna da Silva’. O brasileiro. Nunca tinha chamado Senna de ‘o brasileiro’. ‘O brasileiro Ayrton Senna da Silva, piloto profissional de Fórmula 1, morreu ontem…’ Ficou legal.
Escrevi rápido. Cinco ou seis matérias. A Williams, a suspensão, o hospital, a pista, essas coisas. Quando terminei de transmitir tudo, me veio uma sensação horrível de trabalho mal-feito. Aquela coisa de não interferir na edição. Cheguei a escrever um recado emocionado aos colegas da redação que ajudaram naquele dia, que tiveram suas folgas cassadas, que colaboraram na elaboração de um produto bom num episódio tão trágico. Meu drama interior era um só: não fiz nada que os outros não tenham feito. E o resultado da edição do dia seguinte dependia muito mais de quem estava em São Paulo do que de mim. Ninguém nunca leu esse recado, que está guardado num disquete em casa ao lado da caneta que eu usei para minhas anotações naquele domingo. Uma caneta que eu achei na sala de imprensa de Aida, com a ponta mordida. Ninguém leu porque o texto não chegou a ser transmitido. A linha caiu, deu ocupado, sei lá. Desisti.
Os dias seguintes foram piores que o domingo. Na segunda-feira, fomos cedo para o Instituto Médico Legal de Bolonha, sempre eu, Mario e Marcelo. Tinha gente para todos os lados e nenhuma notícia. Às 8h de Brasília, 13h na Itália, falei com meu pauteiro de um telefone público num bar. Não tinha muito a dizer, daria retorno mais tarde, e ele me avisou que alguém na redação queria falar comigo antes de eu desligar. Era uma moça, Cleusa Turra, secretária-assistente de redação. Pensei o pior. Vão querer que eu entreviste o caixão, o muro, essas coisas da Folha. Caí do cavalo. Cleusa queria saber apenas se eu estava legal. Me emocionei pela segunda vez. Não esperava nada muito humano do jornal. Estou legal, respondi.
Foi um dia fraco de notícias, cheio de desencontros e alarmes falsos. A Folha enviara um fotógrafo para Bolonha, o Pisco Del Gaiso, hoje na Placar. Só o vi no IML. Perdemos o contato depois. No fim da tarde, nos transferimos de mala e cuia para o Novotel de Bolonha, onde estava instalado o QG da diplomacia brasileira que iria cuidar da transferência do corpo no dia seguinte. Alguns colegas voltaram ao Brasil na segunda à noite, no mesmo vôo que levou o irmão de Senna, Leonardo. Os que ficaram viraram atração; só eu fui entrevistado por uma rádio italiana e uma TV alemã. À noite, liguei para o jornal. ‘Chegou tudo?’, perguntei. Sim, chegou. Eram 22h aqui, 3h de terça-feira lá. Fulana quer falar com você. Era a secretária de redação do jornal, uma figura que raramente me cumprimentava na redação. Vinha bomba, com certeza. Resumo da nossa conversa, um tanto quanto áspera: nossa avaliação (deles) é de que O Globo saiu melhor, blá-blá-blá. E achamos que você deveria ter ido para o hospital na hora do acidente. Por que não foi? Porque achei que não deveria ficar uma hora no escuro, sem informações, sabendo que ele poderia morrer a qualquer momento. Não foi por causa da rádio?, insinuou a secretária. Ali percebi que meus dias na Folha estavam contados. Inventaram uma desculpa para me implodir.
Na terça-feira, irritado com a insinuação da véspera, alguns quilos mais magro (não dava tempo de comer direito e faltava apetite, essa é a verdade), vivi novos momentos de emoção. O corpo embarcou no fim da tarde num avião da Força Aérea Italiana, em Bolonha. Não vi a decolagem. Estava falando com o jornal. Na mesma hora, a maioria dos jornalistas brasileiros embarcou para Paris, de onde voltariam a São Paulo no mesmo vôo do caixão. Me senti só. Ficamos eu e o Mario em Bolonha. O resto foi embora. Foi nessa terça-feira que consegui minha melhor matéria. Uma ex-namorada, de 13 anos antes, quando eu ainda morava no interior, era legista no IML de Bolonha. Consegui encontrá-la. Brigou comigo, depois de tantos anos, porque eu não a procurei antes. ‘Eu te mostrava o corpo!’, me disse, num português bastante razoável. Foi até meu hotel e me deu uma longa entrevista. Descreveu a cabeça de Senna, contou que colocou uma rosa na sua mão antes de fecharem o caixão, falou sobre os legistas, seus professores. E me revelou que o laudo iria concluir que ele morreu na pista. Foi uma grande matéria. Minha última na Folha, manchete do jornal no dia seguinte, 4 de maio.
Naquela noite, no mesmo horário, três da manhã, liguei para a redação para avisar que estaria voltando no dia seguinte. A secretária de redação queria falar comigo de novo. Dois assuntos: 1) você não pode mais colaborar com a rádio; 2) decidimos que você vai ficar na Itália acompanhando o inquérito. Como acompanhar o inquérito? Isso vai levar meses! Pela primeira vez na minha vida, gritei com alguém no telefone. Queria voltar. Tinha motivos de sobra para isso. Primeiro, os jornalísticos: havia o velório, o enterro, todos os pilotos estariam no Brasil, eu precisava cobrir essa merda! Além do mais, um inquérito policial é um negócio que demora muito tempo. Não vou descobrir um assassino para o Senna, argumentei. Todo mundo já foi embora. ‘A Folha não é todo mundo’, ouvi. Seguiu-se um bate-boca. Chegamos a um impasse. Apelei para o pessoal. Queria voltar, estava estressado, emagreci cinco quilos, precisava ver gente viva. ‘Nós decidimos. Você vai ficar e pronto’, me disse a secretária. Eram três da manhã e eu não queria esticar aquele papo. Fui bem claro: ‘Quem decide o que eu faço sou eu. Peço demissão e estou voltando amanhã’. Do outro lado da linha, ela tentou contemporizar. ‘Não é bem assim, vou falar com fulano e te ligo depois’, disse. Eu encerrei de vez: ‘Não, ninguém me liga mais hoje. São três da manhã e eu tenho um avião amanhã cedo. Tchau’. Desliguei e pedi à recepção que não passasse mais nenhuma ligação para meu quarto. ‘Eles vão dar para trás’, resmungou o Mario, que já dormia. Ligaram, eu soube depois. Mas eu já estava dormindo. Pela primeira vez, desde a morte de Senna.
Na quarta-feira, saímos os dois do hotel. Mario para Pisa, onde pegaria um avião para Londres. Eu para Milão, de onde voaria para Madri. Ambos, como sempre, atrasados. Mas, também como sempre, chegamos a tempo. No aeroporto de Linate, devolvi o Punto vinho e só embarquei porque era brasileiro. Ficaram com pena de mim. Cheguei a Madri, fui para o bom e velho Trip Hotel, liguei para meu editor, comuniquei-lhe que estava demissionário e fui ao cinema assistir ‘Proposta Indecente’. No fim da noite, emocionei-me pela quarta vez: na TV, mostraram as imagens do Morumbi lotado gritando o nome de Senna antes do clássico São Paulo x Palmeiras. No gramado, um jogador, ajoelhado, rezava. Era Gilmar, zagueiro são-paulino, hoje na Portuguesa.
Tentei esquecer Senna, a Fórmula 1 e a Folha. Na manhã seguinte, embarquei em Barajas levando um monte de acessórios que comprei numa concessionária Renault para meu carro novo, que eu ainda não tinha nem visto. Cheguei a São Paulo na quinta à noite, logo depois do enterro. Minha mulher me esperava. Nos abraçamos em silêncio. Tentei manter a pose. Na av. Tiradentes, vi bandeiras negras, faixas, ônibus com a inscrição ‘Valeu Senna’. Na sexta, fui ao jornal para oficializar minha saída. Não fui recebido pela direção de redação. O pessoal da editoria não sabia que eu estava fora. Minha coluna, ‘Warm Up’, estava diagramada para ser publicada no dia seguinte. Ela nunca foi escrita. Fui demitido na segunda-feira, por insubordinação.

 https://f1mania.lance.com.br/ayrton-senna/ayrton-senna-1994/
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SENNA E BERGER SE PREOCUPARAM COM A CURVA TAMBURELLO  MAS NÃO ACHARAM SOLUÇÃO PARA MUDAR O TRAÇADO EM 1989

Austríaco fala de relação com brasileiro na F1 e revela que ambos pensaram em mudar curva fatídica em Imola após sua batida forte em 1989



Fonte: Motorsport 23/08/2018
Grande amigo de Ayrton Senna, o austríaco Gerhard Berger falou sobre o brasileiro ao podcast oficial da Fórmula 1, Beyond the Grid. Entre outras histórias, o ex-piloto lembrou do momento em que ele e Senna tiveram nas mãos a possibilidade de mudar a curva que mais tarde, em 1994, mataria o brasileiro no circuito de Imola, na Itália.
No GP de San Marino de 1989, Berger havia tido um acidente no mesmo local, a curva Tamburello, quando a asa dianteira de sua Ferrari cedeu. Com o carro de tanque cheio, o austríaco desmaiou após o impacto com o muro de concreto e seu carro pegou fogo enquanto ele ainda estava dentro dele. Após o ocorrido o austríaco pensou em mudar o ponto e dividiu sua preocupação com Senna, no entanto nenhum dos dois viu solução para fazer a curva mais segura.
“Em Imola, na manhã após o acidente de Ratzenberger, ele me falou: ‘Gerhard, precisamos nos juntar pela segurança do esporte’”, falou Berger.

“E nós havíamos pensado em fazer alguma coisa depois daquela corrida sobre isso, mas infelizmente ele morreu.”
“É uma história bem triste, mas eu tive um acidente praticamente no mesmo lugar que ele e sobrevivi por sorte (em 1989). Quando eu estava no hospital, ele me ligou e eu falei: ‘Ayrton, nós temos que fazer alguma coisa com essa parede. Algum dia alguém vai morrer neste muro’. Algumas semanas depois nos encontramos em um teste em Imola. Nós fomos ao local do meu acidente e tentamos entender como mover o muro, mas vimos que atrás tinha um rio.”

“Nos olhamos e vimos que não havia nada para fazer. Nós andamos de volta e não fizemos nada. Foi o lugar onde ele morreu. Estava nas nossas mãos ali, e não pensamos em colocar uma chicane e reduzir a velocidade ali. Não reagimos da maneira certa.”
Após a morte de Senna, uma chicane foi colocada na curva Tamburello, com uma extensa caixa de brita.
Berger ainda reconheceu que Senna sempre esteve tecnicamente um passo à sua frente.
“Não era uma questão de velocidade, era uma questão de pacote”, seguiu.
“Obviamente Ayrton tinha uma grande vantagem em relação a mim, ele começo no kart com quatro anos. Ele tinha 400 corridas antes de começar na Fórmula 1. Eu comecei a correr com 21, e com 24 eu estava na Fórmula 1. Eu acho que tinha 40 corridas do zero até a F1.”
“Você nunca vai conseguir essa experiência de volta, então, falando deste lado, Ayrton era um cara muito experiente. E isso combinado a um grande talento, a um cérebro muito bom – ele era um lutador de rua brasileiro – e ele tinha uma grande habilidade para se concentrar. Isso era o que fazia ele diferente do resto. Acho que se você cortasse a mão dele, ele não sentiria até que a corrida terminasse. Isso o dava uma vantagem.”
“Ele jogava o jogo, é claro – como todos faziam e como eu fazia. Ele era inteligente, então o jeito que ele jogava você não entendia rápido. Um jeito tipicamente brasileiro. Mas fora de questão: acho que se eu estivesse na merda ele me ajudaria, assim como se ele estivesse na merda eu o ajudaria. Tínhamos uma relação honesta.”
https://br.motorsport.com/f1/news/berger-lembra-senna-pensamos-em-mudar-a-tamburello-em-1989/3162820/
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Relembre momento do acidente fatal de Ayrton Senna



A Jovem Pan estava acompanhando a corrida em 1994 com narração de Nilson César e comentários de Claudio Carsughi, onde ambos demonstraram grande preocupação logo após o acidente, pedindo que os ouvintes orassem pela vida de Senna.Cesar destacou os momentos de tensão que o tricampeão mundial e os demais pilotos estavam passando naquele fim de semana. Na sexta-feira, Rubens Barrichelo havia sofrido um grave acidente, onde quebrou o nariz e ficou impossibilitado de correr. Já no sábado, o piloto austríaco Roland Ratzenberger morreu após bater forte na curva Villeneuve.Senna demonstrava apreensão e liderou os pilotos para o pedido de melhores condições de segurança no circuito, ameaçando não correr caso não fossem tomadas as medidas necessárias. Ele e os seus colegas concordaram em correr e que acabaria de forma trágica para a tristeza de todos.“Só pode ter havido um problema mecânico. O Senna é um piloto habilidoso e nunca cometeria um erro primário desses”, disse Carsughi durante a transmissão.As suspeitas do comentarista se mostraram certas mais a frente, quando a perícia confirmou a quebra da coluna de direção do carro do brasileiro como fator principal da tragédia que o transformou numa lenda, cultuado por milhões de fãs ao redor do globo.

 https://jovempan.uol.com.br/esportes/relembre-momento-do-acidente-fatal-de-ayrton-senna.html
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 Sábado, o piloto austríaco Roland Ratzenberger morreu após bater forte na curva Villeneuve.Senna demonstrava apreensão e liderou os pilotos para o pedido de melhores condições de segurança no circuito, ameaçando não correr caso não fossem tomadas as medidas necessárias. Ele e os seus colegas concordaram em correr e que acabaria de forma trágica para a tristeza de todos.“Só pode ter havido um problema mecânico. O Senna é um piloto habilidoso e nunca cometeria um erro primário desses”, disse Carsughi durante a transmissão.As suspeitas do comentarista se mostraram certas mais a frente, quando a perícia confirmou a quebra da coluna de direção do carro do brasileiro como fator principal da tragédia que o transformou numa lenda, cultuado por milhões de fãs ao redor do globo.
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Itamar decreta luto oficial
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Itamar Franco vai decretar hoje luto oficial em todo o país pela morte de Ayrton Senna. Segundo o ministro Henrique Hargreaves (Casa Civil), embora não tenha sido chefe de Estado para receber a homenagem, o governo decretará luto.
Além de uma nota de pesar, Itamar encaminhou um telegrama ao pai de Senna.
Itamar assistia corrida pela televisão.
Antes que fosse anunciada a morte de Senna, Itamar mandou divulgar uma nota em que dizia estar "acompanhando com tristeza e desolação" o noticiário. Itamar tentou falar com a família de Senna, mas não conseguiu.
Itamar determinou ao embaixador brasileiro em Roma, Orlando Carbonar, que prestasse assistência aos familiares de Senna na Itália. O governo colocou o avião presidencial à disposição para trazer o corpo da Itália.
Itamar pretendia permitir que aviões da FAB levassem a família do piloto à Itália. Falou com Luiz Antonio Fleury, governador de São Paulo, para que fossem enviados aviões do Estado, mas enfrentou dificuldades técnicas.
https://www1.folha.uol.com.br/fsp/1994/5/02/caderno_especial/15.html 
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Barrichello lamenta perda do ídolo
SÉRGIO MALBERGIER
DE LONDRES
O piloto Rubens Barrichello ficou muito emocionado com a morte de Ayrton Senna, a quem chamou de "o maior piloto de todos os tempos".
A Folha ligou para a casa de Barrichello em Cambridge, pouco depois de anunciada a morte de Senna. Um assessor disse que ele não tinha condições de falar.
Mais tarde, a Folha conversou com Barrichello através do telefone celular do piloto, que estava a caminho do aeroporto para vir a São Paulo, onde deveria chegar esta manhã.

Folha - Você acha que a segurança dos pilotos vai ter que ser revista depois deste fim-de-semana trágico?
Rubens Barrichello - Com certeza. O maior piloto de todos os tempos morto tragicamente, com certeza tudo vai ter que ser revisto.
Folha - Você agora passa a ser o brasileiro melhor posicionado no campeonato. Como que você sente esta responsabilidade?
Barrichello - Eu me sinto muito contente em poder estar em segundo no campeonato, lutando pelas três primeiras colocações, mas eu acho que é só o começo.
Folha - O que o Senna significava para você?
Barrichello - Ultimamente nós tínhamos nos aproximado mais. O Senna para mim era um ídolo e um amigo.
São as duas coisas mais significativas para mim. Uma pessoa que rompeu todas as barreiras.
Folha - E você, quando volta a correr?
Barrichello - Se Deus quiser em Mônaco. Eu estou voltando para o Brasil, vou ver o médico e se eu puder tirar o gesso, em Mônaco eu estarei de volta.
Folha - Esses acidentes neste fim-de-semana afetam um pouco a sua vontade de correr?
Barrichello - De certa forma nós temos de pensar que o Senna sempre gostou de viver correndo.
No Japão, fiquei sabendo por muitas pessoas que ele torcia demais (por mim), que ele gritava "vai menino" e isso para mim é uma alegria muito grande.
Então eu tenho certeza que ele vai ficar contente comigo correndo e não parado.
Folha - Na hora do acidente do Senna o que você sentiu?
Barrichello - Olha, eu tinha certeza que ele estaria como eu depois do meu acidente, que ele estaria alguns minutos desacordado.
Eu fiquei quase 15 minutos desacordado, então não fiquei muito preocupado. Mais depois que levantaram ele e eu vi o sangue, eu fiquei preocupado.
Folha - Você tem algum tipo de ritual para entrar na pista?
Barrichello - Eu rezo pedindo a Deus que me proteja e que me dê saúde, só isso. O resto sou eu quem tem que fazer.
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Emerson Fittipaldi diz estar "devastado"
Emerson Fittipaldi, piloto brasileiro de F-Indy, campeão de F-Indy (89) e de F-1 (72 e 74) - O piloto soube do acidente após uma sessão de testes na pista de Michigan, a mais veloz da Fórmula Indy. Ele disse estar "devastado" com a notícia. Emerson deve chegar hoje a São Paulo
Raul Boesel, piloto brasileiro de F-Indy e ex-piloto de F-1 - "A morte de Ayrton Senna foi uma tragédia para o esporte mundial". Boesel acrescentou que falta segurança aos carros de F-1. "Na F-Indy, o chassi na parte lateral do carro é bem mais alto, sobe quase à metade do capacete. Na F-1, o ombro do piloto fica quase todo de fora".
Michael Schumacher, piloto alemão, líder do Campeonato de F-1 - Disse que é preciso uma união de pilotos para aumentar a segurança da categoria. "O que temos a fazer é aprender com esse acidente, que causou a morte do Senna". Ele já defende algumas medidas: "Talvez agora os pilotos comecem a pensar sobre limitar a velocidade."
Stirling Moss, ex-piloto inglês de F-1 que correu nos anos 60 - Afirmou que o carro de Senna parecia estar com problemas. "Deu a impressão de que Senna não tentou fazer a curva. Como era ele, o problema deve ter sido o carro."
Jackie Stewart, ex-piloto escocês, tricampeão de F-1 (69, 71 e 73) - "Senna era um dos maiores pilotos de todos os tempos. Isso deixou a comunidade da F-1 ainda mais chocada."
Alain Prost, ex-piloto francês, tetracampeão de F-1 (1985, 86, 89 e 93) - Classificou a morte de Senna como um "choque". "Se estivesse no lugar de Damon Hill, não teria participado da nova largado", disse o francês, inimigo de Senna enquanto corria.
Jean Alesi, piloto francês da Ferrari (está fora das pistas devido a um acidente em testes no início do ano) - "As máquinas atuais são quase incontroláveis e muitas vezes imprevisíveis."
Carlos Reutmann, ex-piloto argentino, vice-campeão da F-1 em 1981. "Ayrton Senna foi um piloto fora-de-série." Reutmann atualmente sofre de insuficiência renal e tem se submetido a sessões de diálise para superar o problema.
Ron Dennis, sócio e chefe da equipe McLaren, pela qual Senna correu durante seis anos, de 1989 a 1993 - Negou que os carros de F-1 tenham problemas de segurança. "Esta é a pior parte das corridas de carros."
Eddie Jordan, chefe da equipe Jordan, pela qual corre Rubens Barrichello, que sofreu um acidente no treino de sexta-feira - "Esse foi e será o mais horrível fim-de-semana do nosso esporte por muito tempo."
Nigel Mansell, britânico, campeão da F-1 em 92 e da F-Indy em 93 - "Estou em total estado de choque. Ayrton e eu fizemos algumas das maiores corridas da história e é impossível verbalizar o que essa perda significa."
Michael Andretti, piloto norte-americano, companheiro de Senna na McLaren em 93 - "Quero que todos saibam que ele era uma ótima pessoa. 99% das coisas que diziam sobre ele não eram verdade. Ele sempre foi correto comigo."
Mario Andretti, pai de Michael, campeão mundial em 78: "Ele foi um dos primeiros a enviar uma mensagem de parabéns a meu filho quando ele venceu o GP da Austrália de F-Indy, este ano. É uma perda devastadora, um choque." 
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Piloto colecionou inimigos na pista
GEORGE ALONSO
DA REVISTA DA FOLHA
Fonte: FOLHA DE SÃO PAULO 08/05/1994
A escalada de Ayrton Senna ao topo da F-1 foi feita de duelos nas pistas e inimizades que só agora parecem esquecidas.
Em toda a sua carreira, o piloto se desentendeu com Martin Brundle, Keke Rosberg, Niki Lauda, Michele Alboreto, Nélson Piquet, Nigel Mansell, Alain Prost, Michael Schumacher e Eddie Irvine.
Na luta por títulos, não há anjos: desde os anos 80, toda vez que um piloto ameaça a hegemonia de outro, o pau quebra.
Não foi diferente com Senna, que para ocupar seu espaço no pódio e na mídia enfrentou principalmente o compatriota Piquet, o inglês Mansell e o francês Prost.
A disputa com Nélson começou quando Senna tentou entrar na Fórmula 1 via escuderia Brabham. Em 1984, Piquet teria vetado o ingresso de Senna. Piquet sempre negou tal veto.
Em 1986, com Senna ganhando fama, Piquet venceu o GP da Húngria, quando os dois tiveram um dos duelos mais bonitos da F-1, e disparou: "A próxima vez que ele tentar passar e me fizer correr risco, vai terminar o GP no ônibus da Lotus". Senna ficou em segundo lugar naquela prova.
Em 1987, Piquet apelidou Senna de "Freio de Mão" no GP do Japão, por impedi-lo de ultrapassar. Fez até um protesto oficial por Senna tê-lo ultrapassado na largada – segundo Piquet, em desacordo com o regulamento. "Só assim ele me passa", disse. Naquele mesmo ano, Senna levou um tapa de Mansell após o GP da Bélgica.
O auge do confronto Piquet-Senna foi no Rio em 1988. Piquet disse que Senna não gostava de mulher. Senna retrucou com um processo. Em 1990, disse sobre Catherine Valentim, casada com Piquet à época: "Conheci ela como mulher."
Com Mansell foram muitas as confusões. O começo foi em 1985, quando Senna fechou o inglês durante teste de pneus no autódromo de Jacarepaguá, no Rio.
Em 1992, no duelo do título, Mansell declarou no Canadá que Senna "jogava sujo". Acusou o brasileiro de fechá-lo na pista e concluiu: "Não falo nada mais sobre quem não há nada de bom para falar."
O maior inimigo, porém, foi Prost. O conflito entre os dois começou em Imola, em 1989. Companheiros na McLaren desde o ano anterior, o brasileiro teria, segundo Prost, rompido acordo feito nos boxes.
Pelo acordo, Prost e Senna ficavam proibidos de ultrapassar um ao outro antes da primeira curva do GP. Senna passou, venceu e disse não querer saber do francês.
Nos GPs de 1989 e 1990 do Japão, os dois se chocaram. Foi o recurso que usaram para ganhar o título: o de 1989 ficou com Prost e o de 1990, com o brasileiro.
Nesse Fla-Flu da F-1, Senna acusou Jean-Marie Balestre, presidente da Fisa (Federação Internacional de Automobilismo Esportivo), de favorecer Prost em 1989.
Em 1993, Prost foi para a Williams e Senna percebeu que a McLaren perdia a supremacia absoluta. O brasileiro afirmou que Prost vetara seu nome para uma eventual parceria na escuderia inglesa.
Prost rebateu: "Não impedi a contratação de ninguém, mas me reservei o direito de trabalhar com quem eu quisesse".
A última briga foi em 1993, no Japão. Senna esmurrou o irlandês Eddie Irvine, acusando-o de dirigir perigosamente.
Este ano, não se indispôs com adversários nem terminou nenhuma prova.
CIDADEHá exatos 20 anos o mundo e o Brasil perdiam o seu maior ídolo do automobilismo. Na sétima volta do Grande Prêmio de San Marino, no circuito de Ímola, Ayrton Senna defendia a liderança contra o então jovem Michael Schumacher quando perdeu o controle de sua Williams na curva Tamburello e bateu forte no muro de concreto.
A Jovem Pan estava acompanhando a corrida em 1994 com narração de Nilson César e comentários de Claudio Carsughi, onde ambos demonstraram grande preocupação logo após o acidente, pedindo que os ouvintes orassem pela vida de Senna.
Cesar destacou os momentos de tensão que o tricampeão mundial e os demais pilotos estavam passando naquele fim de semana. Na sexta-feira, Rubens Barrichelo havia sofrido um grave acidente, onde quebrou o nariz e ficou impossibilitado de correr. Já no sábado, o piloto austríaco Roland Ratzenberger morreu após bater forte na curva Villeneuve.
Senna demonstrava apreensão e liderou os pilotos para o pedido de melhores condições de segurança no circuito, ameaçando não correr caso não fossem tomadas as medidas necessárias. Ele e os seus colegas concordaram em correr e que acabaria de forma trágica para a tristeza de todos.

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