O intervalo de três semanas entre o GP da Hungria e o
da Bélgica foi marcado pela perda de uma figura lendária: Enzo Ferrari, que
morreu no dia 14 de agosto de 1988. Aos 90 anos, o fundador da escuderia
italiana era uma das figuras mais respeitadas do automobilismo mundial.Antes
dos treinos em Spa-Francorchamps, a Williams confirmou a ausência de Nigel Mansell
por causa do sarampo contraído de um dos filhos. O piloto já havia se sentido
mal no GP anterior, mas desta vez ficaria de repouso durante todo o final de
semana. Martin Brundle, grande rival de Ayrton Senna na F-3 Inglesa, foi
chamado para pilotar o carro no lugar de seu compatriota.Na classificação do
campeonato, o incrível duelo entre Senna e Prost era simbolizado com o empate
na tabela em 66 pontos. O brasileiro vinha de três vitórias consecutivas
(Inglaterra, Alemanha e Hungria) e tinha em Spa a melhor oportunidade de
conquistar a liderança. Apesar do empate em pontos, Senna tinha uma
considerável vantagem: tinha seis vitórias no ano, contra apenas quatro do
francês – e isso seria decisivo em 1988, já que apenas 11 dos 16 resultados
seriam considerados por regulamento (que previa 5 descartes
obrigatórios).Durante os treinos, a dupla da McLaren ocupou novamente a
primeira fila, com Ayrton Senna na pole position. Ao cravar 1min53s718, o
brasileiro foi 0s410 milésimos mais rápido que Prost, que largaria na segunda
colocação do grid. Com a nona pole na temporada em 11 GPs, Senna igualou o
recorde de dois tricampeões mundiais: Niki Lauda e Nelson Piquet que, além de
Ronnie Peterson, eram os únicos que haviam conseguido até então nove poles no
mesmo ano. Além disso, com sua 25ª pole position na carreira, Senna se tornou o
recordista de poles nos anos 1980 – um feito considerável para quem só havia
entrado praticamente no meio daquela década (1984).“Estou contente por ter
igualado o recorde desses três pilotos. Já estive perto disso em outras
ocasiões, mas só este ano consegui alcançar esta meta. Agora, espero manter
esse ritmo. Quem sabe dá para ir um pouco mais longe…”, disse Senna aos
jornalistas.Na corrida, o francês foi melhor e pulou na frente, mas, logo após
a Eau Rouge, Senna grudou na traseira do companheiro e tirou de lado no
“retão”, também conhecido como Kemmel Straight, concluindo a ultrapassagem
antes da chicane Les Combes.A Ferrari vinha crescendo no campeonato e um embate
contra a McLaren era esperado para o circuito do vale das Ardenas. Mas isso
somente aconteceu nas duas primeiras voltas, onde Berger, que largou em
terceiro, pressionou Prost com duas tentativas de ultrapassagem.Na terceira
volta, o austríaco entra no box com problemas no motor, abandonando logo na
sequência, deixando a terceira colocação para outra Ferrari, a de Michele
Alboreto – o italiano, no entanto, em nenhum momento chegou a desafiar os
líderes. Pior que isso: a corrida para equipe italiana acabou na volta 35,
quando Alboreto também teve problemas no motor. Assim, o piloto local Thierry
Boutsen herdou a terceira colocação no pódio – um feito importante para sua
Benetton de motor aspirado.Enquanto isso, Senna disparava na frente e, sem ser
atormentado pelo companheiro de equipe, recebeu a bandeirada com 30s470 de
vantagem para Prost. Era a 13ª vitória de Senna na Fórmula 1.Naquela 11ª etapa
da temporada, ficou definido que a decisão do título seria mesmo entre o
brasileiro e o francês. A disputa foi apimentada pela catimba de Prost no
pódio, que parabenizou o brasileiro com um efusivo “valeu, campeão”.Ao
conversar com a imprensa, Prost jogou a pressão toda para o lado de Ayrton. “A
equipe McLaren terá dois campões do mundo..”, – disse Prost ao comentar que
embora ele ainda tenha chances de chegar ao título, “Senna está se mostrando
cada vez mais rápido do que eu. Realmente merece ser o campeão da temporada”,
disse o francês.Ayrton Senna não se intimidou com a provocação:“Se ele pensa
que eu vou dormir nos louros, rodou” . Com o resultado, a McLaren garantiu o
título de Construtores com cinco provas de antecedência. Após subir no pódio ao
lado dos dois grandes nomes da temporada, Thierry Boutsen foi desclassificado,
assim como Alessandro Nannini, seu companheiro de equipe na Benetton. Os
comissários encontraram uma irregularidade no tanque de gasolina dos dois
carros. O terceiro lugar foi herdado por Ivan Capelli, da March, e a nova
composição da zona de pontuação traria Nelson Piquet em quarto, Derek Warwick
em quinto e Eddie Cheever em sexto.Na classificação do Mundial de pilotos,
Senna era o líder pela primeira vez, com 75 pontos contra 72 de Prost. O
francês jogava a pressão no brasileiro ao dizer que o título de 1988 já seria
de seu companheiro de equipe. A tentativa de Prost era criar um ambiente de
pressão em Senna e forçar o jovem piloto a um erro em sua nova condição de
favorito – afinal, o ano começou com Prost tendo o papel de piloto líder da
McLaren e com dois títulos mundiais na bagagem. Mas os fãs de F-1 sabiam que o
duelo entre os dois ainda teria capítulos emocionantes naquela temporada.
Fonte: História de Ayrton Senna http://www.ayrtonsenna.com.br/piloto/
Nenhum comentário:
Postar um comentário