O Autódromo Internacional Enzo e Dino Ferrari
é um circuito próximo à cidade italiana de Ímola, a 40 km a leste de
Bolonha e 80 km a leste da fábrica da Ferari, em Maranell.
Este
Autódromo recebeu etapas Fórmula 1 continuadamente, entre as temporadas
de 1980 até 2006 Em 1980 sediou como Grande Prêmio da Itália e nos
demais anos como sede do Grande Prêmio de San Marino. O circuito deve o
nome a Enzo Ferrari o lendário fundador da marca Ferrari e a seu filho Alfredino Ferrari,
mais conhecido por Dino, que morreu em 1956 por doença(distrofia
muscular) ) filho este que veio a dar nome a um dos famosos modelos da
marca, o Ferrari Dino. Ayrton Senna venceu nesse circuito em três
oportunidades, nos anos de 1988, 1989 e 1991. O ploto morreu nesse autódromo em 1º de Maio de 1994, durante o Grande Prêmio de San Marino, na curva Tamburello.
Após esse acidente fatal, a FIA concordou em fazer várias alterações e
modificações de segurança. A curva Tamburello foi transformada em
"chicane"


O OUTRO LADO DA CURVA TAMBURELLO
O portal Terra publicou hoje uma matéria muito interessante sobre o outro lado da Curva Tamburello, que vitimou Ayrton Senna. As fotos abaixo mostram uma homenagem ao piloto brasileiro que poucos conhecem.

O OUTRO LADO DA CURVA TAMBURELLO
O portal Terra publicou hoje uma matéria muito interessante sobre o outro lado da Curva Tamburello, que vitimou Ayrton Senna. As fotos abaixo mostram uma homenagem ao piloto brasileiro que poucos conhecem.
Por 28 euros é possível reservar lugar
na cena brasiliana que acontece às terças-feiras no restaurante River
9, às margens do Rio Santerno, na cidade italiana de Imola. No cardápio,
churrasco e antipasto, bebida não incluída. Os brasileiros que
comparecem ao evento dificilmente ignoram que a poucos metros das mesas
ao ar livre, do outro lado do pequeno leito de água calma, fica a curva
Tamburello - palco do trágico acidente que tirou a vida de Ayrton Senna
em 1994.
Do
outro lado da Tamburello, em um quiosque no interior do circuito,
animados senhores protagonizam embates de baralho. Mas um deles, ao lado
da mesa, ignora o carteado e mira o campo de futebol com gramado
perfeito, localizado logo atrás da tribuna principal de imprensa e
arquibancadas, nomeada "Ayrton Senna".
Começa
o treino do Imolese, time da cidade que, após falências em 2005 e 2008,
sofre na disputa da Eccellenza - o campeonato regional da
Emilia-Romagna pelo acesso à quinta divisão nacional. Desanimado, o
torcedor comenta as chances de escalada de volta à divisão C-2, o mais
alto patamar já alcançado pelo clube: "quem dera".
A
alguns metros dali, um espaço com a estátua do piloto brasileiro serve
de memorial. Mas na cerca oposta, que guarda o verdadeiro local da
colisão, bandeiras do Brasil e flores envelhecem penduradas. A
precariedade do barranco próximo ao rio explica porque o muro precisava
ficar tão próximo à antiga curva - agora alterada e transformada em uma
grande área de escape.
Apesar
de cadeados e cercas por todo o traçado, neste local o alambrado está
resignadamente escancarado: qualquer um pode acessar essa parte da
pista, ainda que irregularmente.
Hoje
em dia o autódromo de Imola (oficialmente Enzo e Dino Ferrari) se
confunde com a cidade de pouco mais de 60 mil habitantes. Na sua origem,
estradas que ligavam o pequeno centro aos povoados vizinhos serviram de
base para o circuito. Na prática, vários trechos seguiram abertos ao
trânsito até 1980, quando a pista foi definitivamente cercada.
Entretanto, a parte interior do traçado tem vida própria, e pode ser
acessada por qualquer dos diversos túneis que passam abaixo da pista.
O
Grande Prêmio que levava o nome de San Marino - pequena república
independente a 100 km de Imola - estendeu-se de 1981 a 2006, mesmo com a
fatídica edição de 1994. E assim como no calendário do automobilismo, o
circuito parece perder o papel de protagonista mesmo em seu território.
"Quer
ver onde morreu o ragazzo?", pergunta Giovanni Ferri, dono de uma das
diversas casas na parte interior do autódromo. "Foi aqui nessa
variante", explica, apontando para a última curva antes da reta dos
boxes, a nova Variante Bassa. "É o segundo que morre. Isto aqui é um
desastre."
Na
verdade, o morador da via Malsicura (sugestivo nome da rua paralela à
reta dos boxes) se refere a Gabriele Nannini, 38 anos, que em 2010 pagou
80 euros para andar com sua moto por 20 minutos no traçado histórico.
Perdeu o controle na última curva, bateu no muro de proteção e morreu a
caminho do hospital. Em abril, caso idêntico ocorreu com Alessandro
Tasselli, chef de cozinha de 35 anos e piloto amador.
"Eles
pagam para correr no circuito, mas não são tão bravos. Refizeram esta
variante aqui, só que ficou muito estreita", aponta com a propriedade de
quem mora em frente ao local há mais de três décadas.
Desde
1994 reformas tentam recuperar a credibilidade do autódromo. Nos
treinos livres daquele ano, Rubens Barrichello foi para o hospital após
decolar sobre a antiga Variante Bassa. Na classificação, Ratzenberger
morreu ao chocar-se contra o muro na curva Villeneuve. Com os riscos
inerentes ao esporte como justificativa, a corrida do dia seguinte não
foi cancelada.
Um
acidente logo na largada jogou destroços para as tribunas e feriu nove
pessoas, uma gravemente. O safety-car foi acionado para reduzir o ritmo
dos carros e permitir a limpeza dos detritos. Naquelas condições, a
temperatura dos pneus cai abaixo do recomendável, assim como sua
aderência. Uma quebra na barra de direção e um pedaço da suspensão que
penetrou o capacete formam o quadro explicativo mais aceito para a morte
de Ayrton Senna.
"Senna?", diz Ferri apontando para a esquerda, na direção da Tamburello. "Sim, era bravo."
Ele
sabe que a Formula 1 não volta tão cedo, mas comemora a diminuição dos
eventos barulhentos na porta de sua casa. "O dinheiro está em outros
lugares, então eles correm em outros lugares. Aqui há muito trabalho a
ser feito, ainda." Mas para seu infortúnio, em setembro mais uma etapa
do Mundial das motos Superbike passa pela sua porta. "Tem gente que mora
aqui, uma escola, e um hospital do outro lado. Isso não me interessa
mais tanto".
Apesar
de aposentado, Ferri mantém uma rotina de trabalho que nada tem a ver
com o famoso asfalto a poucos passos de sua casa. "A pensão é pouca, por
isso planto aqui no meu terreno", explica, antes de desaparecer no
caminho de sua horta, na direção contrária da Variante Bassa.
http://gpmotor2011.blogspot.com/2011/07/o-outro-lado-da-curva-tamburello.html
Vinte mil pessoas enchem Tamburello de vida nos 20 anos do adeus a Senna
Pessoas do mundo inteiro vão a Ímola e rezam e se emocionam no local do acidente do brasileiro. "Ayrton Senna Tribute" homenageia ídolo, morto em 1º de maio de 1994
Tamburello. Maldita Tamburello. A curva que Ayrton Senna não pôde fazer.
Vinte anos após o acidente fatal do tricampeão em 1º de maio de 1994 no
GP de San Marino, em Ímola, a “curva da morte” foi tomada de vida. Não
foram dezenas, não foram centenas. Nesta sexta-feira, milhares de fãs,
de diversos países, compareceram ao circuito para prestar seu tributo ao
ídolo. Mais precisamente 20 mil, segundo o corpo de bombeiros da
comuna. Após dez mil ingressos terem sido vendidos, os portões tiveram
que ser abertos em razão da multidão do lado de fora, que tentava
ansiosamente entrar para deixar sua homenagem.Assim que a organização do “Ayrton Senna Tribute” abriu os portões da
pista do Autódromo Enzo e Dino Ferrari, um mar de gente tomou o circuito
e rumou em direção à Tamburello. No muro do acidente, fãs faziam
orações, outros deixavam flores, mensagens, bandeiras do Brasil e
lembranças em memória do tricampeão. Uma pequena criança - Senna sempre
mostrou grande preocupação com os pequenos - deixou seu desenho na grade
atrás do local da batida.
Em
seguida, uma cerimônia foi realizada no local. Diversos pilotos deixaram seus
depoimentos. Companheiro de McLaren e grande amigo do brasileiro, Gerhard
Berger lembrou os bons momentos com Senna. Marcaram presença também a atual
dupla da Ferrari, Fernando Alonso e Kimi Raikkonen, além dos ex-pilotos como
Andrea de Cesaris, Jarno Trulli, Pierluigi Martini, Riccardo Patrese e
Emanuelle Pirro.
- Por mais que seja uma ocasião triste, a morte
de Ayrton hoje é também um momento feliz, por lembrarmos dele. Nossa geração
teve tantos bons momentos aqui, corridas, testes. Lembro da muito bem de Ayrton
aqui, no hotel, na pista, nos pits. É fantástico estar aqui de novo. Estou
feliz de estar aqui em respeito a Ayrton Senna e Roland Ratzemberger. E acho
que todos aqui concordamos que Senna foi o melhor piloto de todos os tempos –
disse Berger, respondido com aplausos.
Guiados
por Don Sergio Mantovani, o “Capelão dos Pilotos”, os fãs rezaram o “Pai
Nosso”. Na sequência, foi prestado um minuto de silêncio em homenagem a Senna e
também ao austríaco Roland Ratzenberger, morto um dia antes do brasileiro,
durante o treino classificatório. Silêncio seguido de uma arrepiante salva de
palmas. Aos gritos de “Olê, olê, olê, olá, Senna, Senna”, o público ovacionou
Ayrton. Ao fim, a banda marcial encerrou a cerimônia com o Hino Nacional
Brasileiro.
Uma
fã italiana chorava copiosamente em frente ao local do acidente:
-
É difícil segurar a emoção ao lembrar de Ayrton. Ele foi mais que um piloto.
Ele era uma pessoa fantástica. Um ídolo. O que ele fez ficará para sempre -
disse a torcedora emocionada.
Até
franceses, terra de Alain Prost, maior rival de Senna, se renderam ao talento
do brasileiro.
-
Ele foi o maior de todos os tempos. Muitos na França reconhecem que ele foi
melhor que Alain. Ayrton era um gênio, Prost, não - admitiu uma dupla de amigos
franceses.
Na
multidão, diversos brasileiros orgulhosos do reconhecimento mundial do ídolo:
-
Quando entrei no autódromo, senti um energia muito forte. Um local de grandes
provas e onde um ídolo nosso perdeu a vida. Ele morreu, mas sua imagem está
viva. E vinte anos depois, esse grande evento para comemorar. É um orgulho ver
gente do mundo inteiro. Saber que a gente tem um grande ídolo que fez seu nome
com humildade, sabedoria e muita garra - disse Dulce Gardin, que mora em
Verona.
É
o Ayrton Senna do Brasil, da Itália, da França, do mundo.
AYRTON SENNA TRIBUTE
O "Ayrton Senna Tribute" é organizado pelo site
italiano F1Passion, em parceria com a Câmara Municipal de Ímola e o Instituto
Ayrton Senna. A programação foi aberta uma missa na Catedral de Ímola,
celkebrada na quarta-feira , e segue até o próximo domingo com exposições
de filmes, fotos e carros do tricampeão, desfile de carros antigos, corridas de
kart, etc.Uma mostra exibe carros históricos guiados pelo piloto, como a
McLaren MP/4 do 1º título , em 1988. .O austríaco Roland
Ratzenberger, vítima de outro acidente naquele fatídico fim de semana, também é
lembrado nas homenagens.
O primeiro dia do evento será encerrado com um jantar
beneficente e a exibição do filme "Ayrton", de Ercole Colombo e
Angelo Orsi. No estádio Romeo Galli, a 44km do circuito, também como parte do
evento, será disputada uma partida de futebol com o “Nazionale Piloti”, famoso
time formado por pilotos e ex-pilotos. Parte da renda do evento será destinada
ao Instituto Ayrton Senna, organização presidida pela irmã do piloto, Viviane
Senna, que ajuda cerca de 2 milhões de crianças pelo Brasil. Na sexta-feira, a
extensa programação prevê corridas de kart na parte da manhã e à tarde. À
noite, o paddock será palco de um show musical. No sábado, haverá desfiles de
carros, visita guiada ao circuito e a projeção do documentário
"Senna", de Asif Kapadia. No último dia, serão realizadas corridas a
pé e de bicicleta pelo traçado, desfile de carros antigos, além da cerimônia de
encerramento.
https://fgsaraiva.blogspot.com/2014/05/vinte-mil-pessoas-enchem-tamburello-de.html
Senna passa de herói a mártir
JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL
Fonte: FOLHA DE SÃO PAULO 02/05/1994
Ayrton Senna foi um herói para seus admiradores. Desde ontem, ampliou o espaço ocupado por sua imagem na mitologia do cotidiano moderno para se tornar bem mais que isso. É agora mártir.
Nesse imenso salto qualitativo, está a aparição da morte como um drama que é individual, mas ao mesmo tempo só compreendido na medida em que é o produto de um processo cultural e histórico.
As bibliotecas do Ocidente registram com enfoques inesgotáveis a dificuldade de se lidar com a morte.
Não quando ela é corriqueira, a chamada "boa morte", que a Idade Média acreditava ser precedida de sacramentos e definia como o desfecho de uma vida caridosa e com pecados perdoados.
A morte aceitável correspondia, grosso modo, à possibilidade de o cristão evitar a escala no purgatório (noção que surgiu no século 12) e ir direto para o paraíso.
A morte temida era a morte inesperada. O medo de sua ocorrência abasteceu momentos brilhantes da literatura. Em "A Tempestade", de Shakespeare, um dos personagens se refere ao temor do naufrágio:
"Que seja feita a vontade de Deus, mas eu gostaria de morrer de morte seca", diz ele.
Ariosto, em "Orlando Furioso", vai em sentido inverso com a imagem do herói destemido, paladino inacessível ao medo e que enfrenta a morte de peito aberto em sua luta contra os infiéis.
Ariosto foi um dos fabricantes de um modelo que seria constantemente atualizado e teria, como descendente direto, o herói esportivo contemporâneo.
O heroismo é uma construção narrativa. Primeiramente, no cristianismo, com o martírio dos santos. Bem depois, a partir do século 8, com a figura do cavaleiro.
O cavaleiro medieval foi o personagem que mais se aproxima do atual esportista: comemora a vitória obtida com riscos elevados.
Militar em tempos de guerra, o cavaleiro passou à rotina lúdica durante os prolongados períodos de paz. Sua prática, por volta do século 12, é a que mais se aproxima da atual noção de esporte.
A pólis grega valorizava entre os cidadãos a prática esportiva, mas não era a mesma coisa. Inexistia o individualismo e a percepção não mitológica do herói.
Assim, é com a cavalaria medieval que o desempenho do indivíduo passa a ser objeto de uma linguagem específica que passa a ter ampla aceitação popular.
O herói é aquele que se arrisca sem ter um inimigo concreto.
Sua morte em torneio é sempre acidental. É uma morte trágica porque inesperada no interior da mitologia que o sustenta.
Evidencia-se o efeito de contraste com outras mortes, por volta do século 15, quando a morte chegava de surpresa por meio da peste bubônica.
A peste produzia vítimas. Só a cavalaria produzia heróis, que o Ocidente não tratava de forma homogênea.
A tradição latina valorizava o vencedor e só aceitava o derrotado quando emboscado ou por ter chegado aos limites de sua resistência.
Mas a mitologia germânica reverenciava bem mais o herói morto. Seu cadáver era recolhido pelas valquírias e levado para conviver num conselho presidido pelo deus Wotan.
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